O e-mail é um instrumento mágico. Permite a comunicação espontânea, imediata e multiplicadora com número crescente de interlocutores. Além da intensificação das relações interpessoais, a rede é pródiga em toda espécie de comunicação.
Recebe-se número considerável de “correntes”, propaganda, mensagens e outros frutos da imaginação informática. Recentemente, recebi um arrazoado sobre as vantagens do consumo de água em jejum. O hábito acarretaria um plus na qualidade de vida de quem a ele se entregasse.
Consultei um médico experiente e consciente. E ele trouxe material de reflexão que merece detida análise de parte de todos os interessados na saúde da população e no futuro da Humanidade. A água que faria bem à saúde seria aquela de que já não dispomos. Água pura, descontaminada; tal como antigamente encontrada na natureza. Por que já não temos essa água?
Aquela que sai de nossas torneiras, quase não pode mais ser chamada “água”. É o resultado de muitas operações de descontaminação, porque substâncias venenosas e agrotóxicos a tornam imprópria ao uso. Nosso Diesel, por exemplo, tem 2.000% – dois mil por cento! – mais enxofre do que aquele consumido na Europa. Mas não é só. Os agrotóxicos vão todos para a torneira e ganham a via de esgotamento e chegam aos rios. Mais algo bastante ignorado: quase 80% das mulheres em idade fértil, entre 15 e 40 anos, tomam anticoncepcionais.
Esse estrógeno fica na urina e vai para o esgoto. Cerca de 7,2 milhões de litros de urina são lançados ao esgoto a cada dia, só em São Paulo. E o tratamento de água não contempla essa contaminação. Parece limitar-se a amenizar o efeito dos coliformes. A cada dia comemos mais alimentos químicos. A agricultura usa cada vez mais fertilizantes e agrotóxicos. O frango e o gado é alimentado com ração com propriedades hormonais estrogênicas. Será que ainda se toma água pura?
Paralelamente, alguém tem ideia de quanto se gasta para tratar água com outras substâncias depuradoras e de quanto o Poder Público é obrigado a investir em estações de tratamento de água e esgoto, suas estruturas funcionais e dispêndio de custeio?
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.