O Brasil poderia exportar corruptos. Não faltaria oferta. É o produto nacional que prolifera em todos os níveis. Mas em lugar de exportá-los, nós ainda importamos gente do mal.
A máfia italiana escolheu o Brasil para se instalar e para prosperar, renovando a sua experiência bicentenária. É o que se extrai do livro “Os últimos chefões”, de Alessandra Dino. A autora traça o perfil dos três mais conhecidos líderes da “Cosa Nostra”. Dois deles estão encarcerados e o terceiro foragido há dez anos.
No mundo globalizado, a máfia se moderniza. Estreitam-se as relações com os políticos e os empresários. Os recursos são movimentados na economia formal e atenuam-se as fronteiras entre crime financeiro e crime organizado, negócios lícitos e ilícitos.
Os “novos chefões” são sensatos. Não há mais necessidade de matar, ameaçar, disparar, ser invisível. A truculência, a crueldade e a precipitação não são mais úteis. A liderança é conquistada hoje pelo gerenciamento sensato dos instrumentos do Direito e do poder político-administrativo.
São também versáteis. Precisam evidenciar a capacidade de alternar o moderno e o arcaico. A sutileza e a simpatia valem mais do que a demonstração de força. A máfia percebeu que se conquista mais com uma gota de mel do que com um barril de vinagre. Os agrados, as propinas, a aproximação cordial abre mais portas do que o uso das armas.
O Brasil é o paraíso dessa nova gente. Aqui há espaço para tudo. O brasileiro é cordial, tanto na receptividade ao novo, principalmente quando esse novo oferece vantagens, quanto na superficialidade dos contatos que se estabelecem de imediato, fazendo de quem sabe nos agradar, amigos de infância mal nos são apresentados.
Mercado emergente, o Brasil é campo atraente e fértil para mesclar a quase-honestidade com a falta absoluta de ética a permear atividades lucrativas, pois o que vale é faturar, exibir-se como vitorioso e até mesmo transigir com modesta caridade, a merecer reconhecimento público e oficial pelo “bom mocismo”. Sem falar em outras organizações criminosas bem sucedidas, nativas e importadas. Pobre Brasil!
* JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br. Visite o blog no endereço https://renatonalini.wordpress.com e dê sua opinião sobre seus artigos.
13/01/2014 às 01:02
Parece que isso não tem fim. O mau exemplo começa com os nossos governantes que, em sua maioria, jogam sujo quando conseguem o poder. Daí, todo mundo quer ter suas vantagens e a corrupção se estende no dia a dia dos cidadãos. É por isso que essa desgraça nunca vai acabar no nosso país. Somente um choque de ética – que parecia ter acontecido em junho de 2013, mas só foi fogo de palha… O brasileiro, via de regra, não tem ética, educação, respeito por si próprio e pela sua pátria. E parece que pouca gente se preocupa com esse fato. Pobre de nós!
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13/01/2014 às 04:43
Texto excelente e elucidativo!
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13/01/2014 às 09:42
Muito bom o artigo.
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14/01/2014 às 02:28
Olá Excelência, bom dia. É sempre bom ler suas enriquecedoras publicações. Faço questão de acompanhá-las. O quadro delineado pelo texto é também fruto de regimes democráticos onde as relações políticas e financeiras não sofrem uma ingerência rigorosa do estado, sobretudo quando se dá o seu apoderamento pela ideologia predominante.
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14/01/2014 às 05:09
Sem dúvida. E nas eleições deste ano para governadores e presidentes,, como todas as anteriores, não aparece um candidato com carisma, personalidade e, acima de tudo, vontade de começar a mudar esse pobre Brasil. Pobre de um país que nem oposição tem.
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14/01/2014 às 14:26
antes fosse o paraiso das mafias, aqui é o paraiso da pior espécie de bandidos, o governo populista que rouba de forma legalizada a todos, o que precisamos é sim, exigir uma mafia poderosa que nos defenda destas quadrilhas, que como bem disse o Fabio, está toda conivente com este governo que cooptou todos, e onde existe uma falsa oposição, , a única salvação para o Brasil é a entrada urgente de cassinos, e se puder a mudança total de forma de governo,, de resto nada mudará, , a africanização do Brasil vai em velocidade cruzeiro rumo a seu destino final.
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14/01/2014 às 21:18
Li o artigo, assisti uma entrevista no dia 13 e mesmo não o conhecendo pessoalmente, acredito que o Senhor é um vocacionado para magistratura, é um ser humano de respeito e vai desempenhar dignamente a função, parabéns.
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18/01/2014 às 14:43
È véro caro amigo presidente!!! forte abraço!
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23/01/2014 às 23:01
Concordo Dr. Nalini.
E nesse fervo todo, está o assédio moral, conduzido por “profissionais” do direito, segundo dizem, altamente gabaritados.
Caso o Senhor tenha uma solução qualquer para essa tragédia na minha vida, por favor, me avise que estou desesperada precisando que isso saia de perto de mim com urgência. Às vezes pensa-se em fazer grandes besteiras…. por enquanto tô aguentando…. vamos ver até quando.
Maria Eli Rocha Silveira Diniz
Araraquara – SP
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31/01/2014 às 21:09
rsrsrsrssss… Bravo pela coragem e lamento que não seja um texto fruto da fixação. Busco coragem para continuar andando na busca do: ” Um dia isso pára “
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