Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

Estudar sempre

10 Comentários

Atribuo à minha mãe todo o mérito por minha confessada e nunca desmentida paixão pelos livros. Em minha casa nunca faltaram esses companheiros de vida. Ainda no curso primário, em 1953, na Escola Paroquial “Francisco Telles”, meu incentivo a ganhar as medalhas então usadas para distinguir bom comportamento e aplicação eram pequenos livrinhos da Melhoramentos.

Lembro-me com infinita saudade das tardes chuvosas em que, na cama, ouvia a leitura dos contos na  inconfundível voz materna. Minha mesada era destinada à aquisição de livros. Não havia muitas livrarias em Jundiaí. Mas a papelaria “Anhanguera” possuía alguns títulos. Servi-me com furor da Biblioteca do Colégio Divino Salvador, com sua coleção de clássicos. Eram romances históricos, tipo “Quo Vadis”. 

Mas não faltavam os brasileiros que a boa educação cristã recomendava, dentre eles José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo. Depois Manuel Bernardes, Camilo Castelo Branco. Em seguida, tudo o que me caísse às mãos. Partilhava o mesmo quarto com meu irmão João René, cinco anos mais novo. Esperava que ele dormisse para acender a luz e continuar a ler. Ele acordava no meio da noite e reclamava. 

Com razão. Saudades dele, saudades de mim! A compulsão por leitura já me fez comprar o mesmo livro mais de uma vez. Ainda leio tudo o que me cai às mãos, mas me satisfaço mesmo é com as biografias e com as autobiografias. Estas são imprescindíveis. Conhecer o íntimo de pessoas que nunca terei a oportunidade de encontrar, até porque já encerraram sua peregrinação por este vale de lágrimas… 

Pouco importa que as memórias sejam maquiadas, como se foram hagiografias. Algo do DNA permanece. E aprendemos muito com esses relatos de vida. É tão bom constatar que às vezes nos ocorre pensamento idêntico e que achávamos esquisitice nossa, mas que também perturbou o espírito de uma pessoa admirável. Aprende-se toda a vez que se lê um livro. Ainda que ele não seja o que se esperava dele.

Por isso é que acho tola a classificação “autoajuda”. Todo livro precisa ajudar. Se não ajudar, não deveria ter sido escrito. Tudo o que alguém escreve merece leitura. Ainda que seja para discordar. É assim que aprendemos, é assim que crescemos.

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

Autor: Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. Atual Reitor da UniRegistral. Palestrante e Conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

10 pensamentos sobre “Estudar sempre

  1. Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição. Ficou na minha memória quando do vestibular.

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  2. Sua iniciação a leitura veio da mesma fonte que a minha.
    Minha mãe que apenas concluiu o outrora 4o. ano do grupo, assim chamado o primário para quem nascera em 1921
    Não havia livraria e muito menos biblioteca, quando as amigas no jardim começaram a trocar romances , que além de prático…saia mais econômico.
    E, ouvindo estes dados do doces relatos, eu cresci.
    Aos 13 anos já lia Sandálias do Pescador e assim fui caminhando com toda e qualquer espécie de leitura.
    Certamente que os livros jurídicos predominaram qdo na Faculdade em Bauru, mas um dia, em um consultório médico descobri a riqueza de informações que contém a ” lista telefônica “.
    Rsrs…em seu preâmbulo contém dados e riquezas da região à que ela pertence.
    Nunca fui de romance, mas sim de ficção, e uma curiosidade sou viciada em livros, artigos de psiquiatra, chegando a ler duas vezes o ” diário de uma esquizofrenica”.
    Ontem devorei a vida da grandiosa Psiquiatra, Dra. Nise Silveira…e somente agora soube que a técnica de dar um animal pequeno ao doente mental, torna-o mais calmo, responsável e consequente melhora.
    Sou uma mulher da realidade nua e crua, aquilo que faz outras desmaiarem, faz-me levar o livro para ler em casa.
    Este tipo de leitura altamente diversificada, e a riqueza do vocabulário acentuou minha escrita, passando a escrever um texto, e em seguida, um antagônico , tal qual um acerca do estupro em seu enquadramento anterior, teci no tempo que me cabia, duas posições devidamente fundamentadas.
    Não gosto de rótulos, nem para o que leio.

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  3. É, Nalini , lembro que você , aos 17 anos, já escrevia para o Jornal de Jundiaí. Sempre teve prazer na leitura, mas também na escrita, tudo começou muito cedo é com muito empenho e até sacrifício, muitas vezes, mas valeu a pena . O orgulho de sua mãe em ter um filho como vocé, não tem preço……

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  4. Renato,eu também estudei na Francisco Telles com as irmâs. Leio muito tambem e amo as biografias. Se nâo leu ainda,leia o Sari Vermelho de Javier Moro.É a historia da Sonia Ghandi italiana ,ainda na Politica da India.
    Abraço. Oro

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  5. Tudo ligado a arte de um modo geral me influenciou na vida pessoal até tendo importância em como conquistar em namoro, pois tanto o livro que tem o poder de nos fazer viajar e por ser algo escrito, uma mesma história pode ter um formato para cada leitor, pois nos obriga a imaginar as histórias ali contidas. O livro não existe em formação visual, isto para mim e acredito que para todo mundo abre a mente. Não gosto, porém, do livro que tem a intenção de dirigir o indivíduo, se dizendo “a verdade do mundo”, como os políticos e religiosos, não que não devam ser lidos, mas ao contrário do que fazem, tinha que haver em seus prefácios um aviso claro: “este livro contem posições pessoais e não regras ou leis a serea aceitas como absolutas”. Sempre tive muito raiva de coisas que diminuem ou engarrafam a coisa imensa que é o ser humano, como política e religião.

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  6. “O Relato de um Náufrago” de Gabriel Garcia Marquez, o livro que mais marcou minha adolescência.

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  7. Tenho seguido seus posts e hoje pensei muito pois minha mãe nunca teve o habito de nos incentivar a leitura. Faço isso agora depois de tanto tempo. Mas procuro incentivar meus netos para que sejam sabios….

    Sr, Renato, mandei um email para o senhor… se puder, por favor, leia. É muito importante pra mim. Abraços e obrigada, Terê Pocius

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  8. Maravilhoso, também amo muito estudar sempre !

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  9. Sorocaba, 05 de maio de 2016

    Gostei muito da sua biografia. Também sempre gostei de estudar (mais Matemática), e meus pais e minha avó Madalena, embora muito pobres, sempre me incentivaram a estudar. O Senhor é sem dúvida um profissional de altíssimo nível (quem chegaria a Presidente do TJ/SP sem sê-lo/…), Mas, fiquei feliz em sentir que o Senhor é também uma excelente pessoa, um crristão verdadeiro.
    Parabéns!
    Hernani (Prif, de Matemática Efetivo, se aposentando)

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