Atribuo à minha mãe todo o mérito por minha confessada e nunca desmentida paixão pelos livros. Em minha casa nunca faltaram esses companheiros de vida. Ainda no curso primário, em 1953, na Escola Paroquial “Francisco Telles”, meu incentivo a ganhar as medalhas então usadas para distinguir bom comportamento e aplicação eram pequenos livrinhos da Melhoramentos.
Lembro-me com infinita saudade das tardes chuvosas em que, na cama, ouvia a leitura dos contos na inconfundível voz materna. Minha mesada era destinada à aquisição de livros. Não havia muitas livrarias em Jundiaí. Mas a papelaria “Anhanguera” possuía alguns títulos. Servi-me com furor da Biblioteca do Colégio Divino Salvador, com sua coleção de clássicos. Eram romances históricos, tipo “Quo Vadis”.
Mas não faltavam os brasileiros que a boa educação cristã recomendava, dentre eles José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo. Depois Manuel Bernardes, Camilo Castelo Branco. Em seguida, tudo o que me caísse às mãos. Partilhava o mesmo quarto com meu irmão João René, cinco anos mais novo. Esperava que ele dormisse para acender a luz e continuar a ler. Ele acordava no meio da noite e reclamava.
Com razão. Saudades dele, saudades de mim! A compulsão por leitura já me fez comprar o mesmo livro mais de uma vez. Ainda leio tudo o que me cai às mãos, mas me satisfaço mesmo é com as biografias e com as autobiografias. Estas são imprescindíveis. Conhecer o íntimo de pessoas que nunca terei a oportunidade de encontrar, até porque já encerraram sua peregrinação por este vale de lágrimas…
Pouco importa que as memórias sejam maquiadas, como se foram hagiografias. Algo do DNA permanece. E aprendemos muito com esses relatos de vida. É tão bom constatar que às vezes nos ocorre pensamento idêntico e que achávamos esquisitice nossa, mas que também perturbou o espírito de uma pessoa admirável. Aprende-se toda a vez que se lê um livro. Ainda que ele não seja o que se esperava dele.
Por isso é que acho tola a classificação “autoajuda”. Todo livro precisa ajudar. Se não ajudar, não deveria ter sido escrito. Tudo o que alguém escreve merece leitura. Ainda que seja para discordar. É assim que aprendemos, é assim que crescemos.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.
06/05/2014 às 19:16
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição. Ficou na minha memória quando do vestibular.
CurtirCurtir
06/05/2014 às 20:17
Sua iniciação a leitura veio da mesma fonte que a minha.
Minha mãe que apenas concluiu o outrora 4o. ano do grupo, assim chamado o primário para quem nascera em 1921
Não havia livraria e muito menos biblioteca, quando as amigas no jardim começaram a trocar romances , que além de prático…saia mais econômico.
E, ouvindo estes dados do doces relatos, eu cresci.
Aos 13 anos já lia Sandálias do Pescador e assim fui caminhando com toda e qualquer espécie de leitura.
Certamente que os livros jurídicos predominaram qdo na Faculdade em Bauru, mas um dia, em um consultório médico descobri a riqueza de informações que contém a ” lista telefônica “.
Rsrs…em seu preâmbulo contém dados e riquezas da região à que ela pertence.
Nunca fui de romance, mas sim de ficção, e uma curiosidade sou viciada em livros, artigos de psiquiatra, chegando a ler duas vezes o ” diário de uma esquizofrenica”.
Ontem devorei a vida da grandiosa Psiquiatra, Dra. Nise Silveira…e somente agora soube que a técnica de dar um animal pequeno ao doente mental, torna-o mais calmo, responsável e consequente melhora.
Sou uma mulher da realidade nua e crua, aquilo que faz outras desmaiarem, faz-me levar o livro para ler em casa.
Este tipo de leitura altamente diversificada, e a riqueza do vocabulário acentuou minha escrita, passando a escrever um texto, e em seguida, um antagônico , tal qual um acerca do estupro em seu enquadramento anterior, teci no tempo que me cabia, duas posições devidamente fundamentadas.
Não gosto de rótulos, nem para o que leio.
CurtirCurtir
06/05/2014 às 21:26
Quando
CurtirCurtir
06/05/2014 às 22:15
É, Nalini , lembro que você , aos 17 anos, já escrevia para o Jornal de Jundiaí. Sempre teve prazer na leitura, mas também na escrita, tudo começou muito cedo é com muito empenho e até sacrifício, muitas vezes, mas valeu a pena . O orgulho de sua mãe em ter um filho como vocé, não tem preço……
CurtirCurtir
07/05/2014 às 00:40
Renato,eu também estudei na Francisco Telles com as irmâs. Leio muito tambem e amo as biografias. Se nâo leu ainda,leia o Sari Vermelho de Javier Moro.É a historia da Sonia Ghandi italiana ,ainda na Politica da India.
Abraço. Oro
CurtirCurtir
07/05/2014 às 04:57
Tudo ligado a arte de um modo geral me influenciou na vida pessoal até tendo importância em como conquistar em namoro, pois tanto o livro que tem o poder de nos fazer viajar e por ser algo escrito, uma mesma história pode ter um formato para cada leitor, pois nos obriga a imaginar as histórias ali contidas. O livro não existe em formação visual, isto para mim e acredito que para todo mundo abre a mente. Não gosto, porém, do livro que tem a intenção de dirigir o indivíduo, se dizendo “a verdade do mundo”, como os políticos e religiosos, não que não devam ser lidos, mas ao contrário do que fazem, tinha que haver em seus prefácios um aviso claro: “este livro contem posições pessoais e não regras ou leis a serea aceitas como absolutas”. Sempre tive muito raiva de coisas que diminuem ou engarrafam a coisa imensa que é o ser humano, como política e religião.
CurtirCurtir
07/05/2014 às 05:04
“O Relato de um Náufrago” de Gabriel Garcia Marquez, o livro que mais marcou minha adolescência.
CurtirCurtir
09/05/2014 às 03:57
Tenho seguido seus posts e hoje pensei muito pois minha mãe nunca teve o habito de nos incentivar a leitura. Faço isso agora depois de tanto tempo. Mas procuro incentivar meus netos para que sejam sabios….
Sr, Renato, mandei um email para o senhor… se puder, por favor, leia. É muito importante pra mim. Abraços e obrigada, Terê Pocius
CurtirCurtir
21/05/2014 às 03:08
Maravilhoso, também amo muito estudar sempre !
CurtirCurtir
05/05/2016 às 13:51
Sorocaba, 05 de maio de 2016
Gostei muito da sua biografia. Também sempre gostei de estudar (mais Matemática), e meus pais e minha avó Madalena, embora muito pobres, sempre me incentivaram a estudar. O Senhor é sem dúvida um profissional de altíssimo nível (quem chegaria a Presidente do TJ/SP sem sê-lo/…), Mas, fiquei feliz em sentir que o Senhor é também uma excelente pessoa, um crristão verdadeiro.
Parabéns!
Hernani (Prif, de Matemática Efetivo, se aposentando)
CurtirCurtir