Não se pode alegar ignorância quando se trata de salvar o que resta de natureza nesta terra infeliz. O Brasil que queima museus, queima também o museu natural, vivo e dinâmico da floresta. Já dizimou percentual que varia segundo os interesses, mas é visível a destruição do verde e sua substituição por nefastos signos de quão ignorante se torna o ser humano. A desconhecer sua vinculação íntima com toda a corrente vital da qual ele é apenas um dos elos. O elo mais impiedoso, pois o único a se considerar racional e o agente exclusivo da premeditada extinção de todas as espécies de vida. Inclusive a sua própria.
A mídia espontânea de quando em vez mostram o desastre da tutela ambiental num País que já foi considerado na vanguarda. Ainda há poucos dias, noticiava-se o incêndio criminoso de uma área reflorestada da Floresta Nacional do Bom Futuro em Rondônia. A apenas 140 km da capital, Porto Velho.
Essa reserva florestal já fora reduzida de dois terços em 2010, governo Lula. Influenciou a medida o senador Ivo Cassol – PP, que ajudou a legalizar 3.500 posseiros na floresta preservada. Desde então, o conflito ali só tem aumentado. Mataram um PM em 2013. Roubo de madeira e incêndios são comuns. Os invasores sabem que a classe política está do lado deles. Se ela consegue até revogar o Código Florestal, o que não fará no âmbito local?
A ONG Canindé é vítima desse crime permanente. “A partir da Bom Futuro, invasores, grileiros e políticos incentivadores de invasão passaram a concretizar a ilegalidade. Dizem à população: você invade, porque eu garanto que legalizo. Estamos sofrendo uma pressão muito grande. Não só dos invasores em si, mas de tudo o que cerca esse processo de invasão. Eles não invadem sozinhos: há técnicos de georreferenciamento, advogados, empresários e a classe política, que se apropria dessa causa para ganhar votos. É uma luta de Davi contra Golias, o dia todo, o tempo todo”.
Mas o Brasil não se envergonha de assumir compromisso internacional, no Tratado de Paris, de eliminar o desmatamento. E sabe que há fórmulas para salvar o ambiente, sem prejudicar a lavoura. É só priorizar a regularização fundiária, com integração de cadastros rurais, concluir o Cadastro Ambiental Rural – CAR, tornar o Registro de Imóveis, que já é um conservador da realidade fundiária e dominial de todo o Brasil, o guardião permanente da verdade ecológica, elevar a eficiência de órgãos controladores como Anvisa, Ibama Incra e Funai.
Além disso, elaborar zoneamento ecológico-econômico do território, recuperar pastagens – há muito espaço degradado, que não serve nem à pecuária, nem à lavoura e menos ainda ao ambiente – sem que isso tornasse necessário derrubar uma só árvore.
Aumentar a produtividade da pecuária, proibir servidores públicos de elaborarem estudos, patrocinados por interessados, no sentido de que a fauna do canavial é superior à da Mata Atlântica, por exemplo. Zerar o desmatamento ilegal, recompor florestas para cumprir metas do Acordo de Paris. Promover educação ambiental permanente, formal e informalmente, para que o brasileiro aprenda a valorizar esse patrimônio valiosíssimo que recebeu gratuitamente e que vem destruindo impunemente.
Ainda há consciência ambiental no mundo civilizado e ela poderia ser conclamada a colaborar com um povo que não está sabendo como conservar sua biodiversidade. Por isso, buscar recursos privados para superar gargalos logísticos, assim como estradas, rodovias, hidrovias e portos, também tem de entrar na agenda.
Tudo isso é conhecido e não é novidade. Os que deveriam saber não o desconhecem. Por que não fazem? Porque não querem. Isso é evidente. Todo o arsenal imenso de instrumentos para salvar os resíduos de verde que resistiram à sanha dendroclasta do brasileiro está à disposição. É só servir-se dele. Mas se não há vontade, o que se pode fazer?
_ José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e conferencista.
04/04/2019 às 05:33
Bom Dia, Dr!
Realmente entristece aquilo que devolvemos para nossa generosa Mãe Natureza. O que será de nós, filhos desgarrados e inconsequentes? Grande Abraço!
CurtirCurtir