Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.


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Lincoln já sabia

O 16º e o mais cultuado dentre os presidentes dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, nasceu em 1809 e foi assassinado em 1865. Seu túmulo, em Springfield, onde morou de 1837 a 1861, guarda a inscrição de Edwin M.Stanton: “Agora ele pertence às idades”. Famoso por prezar a dignidade humana, artífice do abolicionismo, é célebre o seu discurso no cemitério de Gettysburg, palco de uma das mais cruentas batalhas da guerra civil. 

Foi essa a oração que encerrou com uma das frases mais repetidas na História: “Cumpre-nos fazer com que esses homens não tenham tombado em vão, que, com o auxílio de Deus, a nação assista à renascença da liberdade e que o governo do povo, pelo povo e para o povo não desapareça da face da terra”. Mas hoje quero render minha humílima homenagem a Lincoln, lembrando seu desapego ao maior ditador sobre a mente humana: o dinheiro. 

Em 1853, então com 44 anos, não ganhou mais do que 30 dólares para tratar de quatro processos no Tribunal itinerante de McLean. Dizia que seus clientes eram tão pobres quanto ele e que não tinha coragem de lhes cobrar mais. Sábio e humano, sabia que litigar não é a solução. Na verdade, pode representar um problema amplificado e intensificado para quem se sente injustiçado. 

Por isso, dizia a quem o quisesse ouvir: “Sempre que puderes, leva o teu próximo a comparar. Esclarece-lhe que o vencedor aparente é, muitas vezes, o verdadeiro vencido pelo que perde em custas, honorários e tempo. Como conciliador, um advogado tem centenas de probabilidades de ser um homem útil. Não lhe faltarão novas causas. Deve abster-se de excitar qualquer contenda, pois não há nada pior do que um mau conselheiro”.

A lição continua cada vez mais atual. Principalmente numa República a enfrentar hoje quase cem milhões de processos. Como se o povo brasileiro fosse o mais beligerante deste sofrido planeta. Por estar sempre ao lado da verdade, por ser desprendido e honesto, por preferir a singeleza e a humanidade em lugar da ambição, das pompas e circunstâncias, foi assassinado. Mas deixou exemplo que deveria repercutir no que resta de lucidez nestes tristes trópicos.

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.