Já escrevi mais de uma vez que neste universo da 4ª Revolução Industrial, quem não inovar perecerá. É que tudo está sob suspeita de anacronismo e superação. Ninguém mais acredita na Democracia Representativa, pois quem consegue representar outrem na sordidez da conduta política de nossos tempos?
Velhas fórmulas já não convencem e o mundo está sequioso de uma alternativa de salvação. Salvação da Terra, tão cruelmente golpeada pela insensatez de quem não percebe que ela é ainda o nosso único habitat. Salvação do convívio, fragilizado por relações superficiais, egoísticas e interesseiras, que amedrontam quem espera encontrar, senão amor, ao menos respeito no trato com o semelhante.
Todavia, não sou resistente a revisitar minhas posições e confesso que os livros de Benoit Godin, pensador canadense do INRS – Institut National de la Recherche Scientifique de Montreal me fizeram pensar. Ele escreveu “Innovation Contested” e “Models of Innovation” (Inovação contestada e modelos de inovação, em tradução livre).
Para ele, inovação é um movimento com fixação na busca pela liberdade e por isso fascina a criatura humana. Os que a praticam em regra introduzem algo diferente em uma sociedade petrificada nos costumes. Mas a inovação não se restringe ao âmbito tecnológico, sentido pelo qual é mais citada em nossos dias. Ela possui um âmbito religioso e político. No primeiro sentido, equivalia a “heresia”. Sua característica é criar um conflito entre a tradição e a novidade, o que prejudicou o sentido positivo de inovação até meados do século XX. Nesse momento ela se tornou a moda e a mania.
Da Idade Média e da Renascença, em que era tão combatida como a “Peste Negra”, até tornar-se a queridinha dos criadores de startups, a panaceia inovadora não passa de um modelo provisório. Tende a ser substituída por outra inovação e, na era consumista em que fomos arremessados, o descarte é o resultado nunca inesperado para as novidades.
Quem acredita na perfectibilidade humana e na escala ascensional do aprimoramento da espécie a cada nova geração, não terá dificuldade em crer também que o ideal será o equilíbrio entre tradição e inovação, para que não se percam parâmetros, valores e, talvez, o próprio conceito de “alma”.
José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e conferencista.