Arquivo do mês: março 2014
Consciência histórica
A partir de 1872 intensificou-se a imigração europeia. Nesse ano, inaugura-se a estrada de ferro Jundiaí-Campinas, pela extinta e saudosa Companhia Paulista de Estradas de Ferro, da qual fui praticante escriturário a partir de 1964. Cinco anos antes, começara a funcionar a primeira linha férrea da província: a SJ – Santos a Jundiaí.
O que há, Caraguá?
Rico é assim mesmo
O ufanismo celebra ficções e quer provar que o Brasil nunca esteve tão bem. Talvez não seja bem assim. Quem tem juízo presta atenção ao contexto e não aos factoides. A jornalista Miriam Leitão em “O Globo” joga água na fervura ao falar sobre o que os brasileiros torram em viagens internacionais: -“Foram 23 bilhões de dólares gastos lá fora com viagens contra 6,1 bilhões de dólares que entraram no país com turistas estrangeiros.
Um rombo de 16,9 bilhões de dólares na conta turismo. A balança comercial registrou até novembro de 2013, 39,3 bilhões de dólares de importação de petróleo e derivados. Parte disso é combustível de 2012, que foi jogado na estatística de 2013. Como houve apenas 19,8 bilhões de dólares de exportação, o rombo do setor petróleo e derivados chegou a 19,5 bilhões de dólares no ano”.
Não comentou o perdão da dívida de países que deixaram de honrar compromissos, mas provaram da generosidade brasileira. Empresários estão desanimados porque reina no Brasil uma espécie de cultura das bondades. Tudo deve ser provido pelo Estado. Sem trabalho, sem esforço, sem iniciativa. Sacrifício é um verbete excluído do dicionário nacional.
O resultado é esta maravilha de economia. Everardo Maciel, ex-secretário da Receita Federal confirma – “A conjuntura não permite otimismos: inflação alta, manipulação de preços, crescimento baixo, desequilíbrio fiscal, endividamento das famílias, são males cuja superação vai requerer ciência, tempo e determinação, temperados pela boa política”.
Enquanto isso, a Administração Pública em geral continua a gastar com propaganda. Algo que deveria ser proibido. É como se em cada lar, a mulher tivesse de imprimir um prospecto para mostrar ao marido onde empregou o dinheiro do orçamento doméstico.
Se as obras são feitas, elas falam por si. Se o trabalho é persistente, ele é a maior propaganda.
Mas alguém acredita que essa tendência reverta e que os detentores de qualquer parcela de poder renunciem a esse costume de fazer publicidade personalista, em nome da transparência republicana? Será que foi isso o que o constituinte quis?
São temas para discussão, muito mais importantes do que rolezinhos ou fofocas, que tomam precioso tempo da seriedade reclamada pela situação geral do Brasil.
* JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br. Visite o blog no endereço https://renatonalini.wordpress.com e dê sua opinião sobre seus artigos.
É possível otimizar
O índice de credibilidade na Justiça Brasileira não é dos melhores. Na última pesquisa levada a efeito pela FGV, ela obteve 33%, muito abaixo da média. Está à frente da política e dos partidos. Mas isso também não é mérito.
A única instituição bem avaliada, logo após as Forças Armadas e a Igreja Católica, é o Ministério Público. Instituição bem fortalecida pelo constituinte de 1988 e que não tem o ônus de decidir. Acionar, recorrer, escolher seletivamente o que interessa é sempre menos arriscado.
Seja como for, o interesse na obtenção de uma Justiça melhor – mais eficiente – é o de todos os brasileiros. O descalabro de algumas situações deriva do desconhecimento e do desinteresse do brasileiro comum quanto à sua Justiça. Ele paga o Judiciário. Mas acha que os assuntos da Justiça pertencem aos juízes. O universo hermético faz com que as reformas atendam a interesses localizados e as mudanças reais não são feitas.
O que falta ao Judiciário é gestão. Ninguém ainda dispõe de um padrão de trabalho. Qual seria o cartório ideal? Qual a produtividade ótima?
Enquanto não se investir nisso, a resposta será a simplista receita utilizada até o momento: precisamos de mais juízes, de mais funcionários, de mais orçamento. Tendência contraditória se levada em conta a opção pelo processo eletrônico. As empresas que se informatizaram reduziram o pessoal. Vide os bancos, por exemplo. O essencial é um funcionário categorizado, superqualificado, que possa ganhar mais, fazer carreira e ficar satisfeito com o seu trabalho.
Nessa linha, os cursos a serem oferecidos aos servidores pela futura “Escola do Servidor”, do TJSP, junto à Escola Paulista da Magistratura, precisam pensar em temas como “Sincronismo organizacional: como alinhar a estratégia, os processos e as pessoas nas organizações”, ou “Como as métricas e indicadores de performance do capital humano podem contribuir para a melhoria da qualidade organizacional, inovação e produtividade”.
Precisamos de formação em liderança, gestão de pessoas, motivação, avaliação de desempenho, busca de excelência. Se conseguirmos despertar o interesse de alguns chefes para se tornarem efetivamente líderes, em breve a Justiça será outra. E quem ganhará será o povo. Isso é o que interessa.
* JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br. Visite o blog no endereço https://renatonalini.wordpress.com e dê sua opinião sobre seus artigos.
Novo espaço de trabalho
Mãe coragem
Deixe o genro brigar
O Brasil possui alguns bilionários, muitos milionários, número imenso de ricos. É claro que ao lado de uma legião de miseráveis. Mas os 10% mais ricos são detentores de 44% da riqueza nacional. A diferença com os ricos de países civilizados é que a maioria dos nossos é miserável. Relativamente poucos os que se preocupam com o investimento social de sua riqueza.
Ao contrário, nos Estados Unidos os nove detentores de 140 bilhões de dólares, doaram 3,4 bilhões em 2013 a instituições filantrópicas. O primeiro deles foi o Presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, acompanhado de sua mulher, Priscilla Chan. São jovens: ele tem 34, ela 29 anos. O casal destinou 992,2 milhões de dólares em ações do grupo para a Fundação Comunitária do Vale do Silício.
Proporcionalmente, ele doou muito mais do que o dízimo para a fundação. Pois seu patrimônio é avaliado em 24,7 bilhões de dólares, a 14ª maior fortuna norte-americana. Em segundo lugar vem o Presidente da Nike, Philip Knight e sua mulher Penélope, com 500 milhões de dólares para uma fundação de pesquisa sobre o câncer.
O ex-Prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, ficou em terceiro com 350 milhões de dólares. Depois vêm outros menos conhecidos: Charles Johnson, Stephen Ross, Muriel Block, John Arrillaga, Irwin Jacobs e Charles Munger. São pessoas que deixam um legado ao mundo, que perdurará após sua morte. Não juntam por juntar. Não têm idolatria pelo dinheiro.
Gostam do que fazem, reconhecem que dinheiro é instrumento para mudar a vida das pessoas. Já a maior parte dos nossos ricos é apegada à fortuna. Pensa em aumentá-la a cada dia. Nem dormem de receio do que possa acontecer. Vivem reféns de sistemas de segurança. Temerosos de tudo e de todos. Quem trabalha na Justiça tem uma vivência interessante.
Não desconhece que a miséria é fonte de inúmeros malefícios e que a pobreza frustra a massa de atingir sua plenitude como ser humano. Enquanto isso, alguns colecionam bens e dinheiro, esquecendo-se de que poucas as décadas reservadas a cada criatura humana. Os Tribunais estão repletos de processos em que, além do objeto da demanda, escorrem lágrimas e sangue dos que litigam por heranças ou pela partilha de bens nas separações.
Ricos avarentos: continuem a juntar e proporcionarão um belo espetáculo aos pósteros, na luta fratricida e no engalfinhamento de genros e noras, ávidos pelo butim.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br. Visite o blog no endereço https://renatonalini.wordpress.com e dê sua opinião sobre seus artigos.