Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.


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Os cinco ‘Ps’ da agenda 2030

Há exatamente um ano, chefes de Estado se reuniram em Nova Iorque e adotaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Estabeleceu-se que todos são chamados para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que são dezessete, subdivididos em 169 metas.

Os objetivos são inspiradores: erradicação da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, água potável e saneamento, energia limpa e acessível, trabalho decente e crescimento econômico, indústria, inovação e infraestrutura, redução das desigualdades, cidades e comunidades sustentáveis, consumo e produção responsáveis, ação contra a mudança global do clima, vida na água, vida terrestre, paz, justiça e instituições eficazes e parcerias e meios de implementação.

Faltam só catorze anos e isso passa rápido demais. Os objetivos passaram a viger em 1º de janeiro de 2016 e espera-se que sejam cumpridos até 31 de dezembro de 2030. Seria melhor que algumas das metas fossem atendidas mesmo antes disso. Os cinco “Ps” devem estar na consciência de todos para que se estabeleça um projeto que seja apropriado por toda a população. Não é plano de governo. É o povo que deve se apoderar dessas metas. Por isso, lembremos: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias.

Pessoas: todos os seres humanos têm direito à concretização de seu potencial quanto à dignidade e igualdade, num ambiente saudável. Planeta: é o único lar de que dispomos. Temos de protegê-lo da degradação. Medidas urgentes para combater a mudança global de clima precisam ser adotadas. É o futuro da Humanidade que está em jogo.

Prosperidade: todos os humanos devem desfrutar de vida próspera e de plena realização pessoal. Paz: a vocação da Humanidade é concretizar a pacificação de uma sociedade justa e inclusiva, livre do medo e da violência. Se não há desenvolvimento sustentável sem paz, não há paz sem desenvolvimento sustentável.

Parcerias: é preciso despertar a população para a solidariedade global, com ênfase nas necessidades particulares dos mais indefesos e vulneráveis. Todas as pessoas são chamadas a esse protagonismo.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 29/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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E daqui vinte e cinco anos?

Uma geração dura 25 anos. Bastaria uma geração para transformar o Brasil, se todos levarem a sério a educação. Todos significa todos mesmo. Sem exclusão. Estado, família e sociedade. Assim como determina a Constituição do Brasil no artigo 205. Aliás, a Lei de Diretrizes e Bases é ainda mais enfática: no seu artigo 2º, coloca a família como a primeira titular do dever de educar.

Educar para a vida. Para que todas as potencialidades do ser humano sejam exploradas e desenvolvidas até à plenitude. Sempre somos capazes de realizar mais. Cumpre nos exigirmos sempre mais. Não encarar limites. Como Jacques Cousteau dizia: “Não sabia que era impossível, foi lá e fez”.

Educar para a cidadania. O Brasil precisa de uma sociedade que saiba respeitar as diferenças. Não é preciso transformar quem pensa diferente em inimigo. Há múltiplas visões de mundo, variadas concepções de vida. Há lugar para todos. Sem destruição, mas com vistas à edificação de uma Pátria justa, igual em oportunidades e solidária. Outra promessa do constituinte.

O que é ser cidadão? É exercer a capacidade de usufruir direitos e assumir responsabilidades. Ser cidadão implica em não fugir dos deveres. A cada direito corresponde a sua face onerosa: a obrigação. Isso nem sempre é compreendido e é por esse motivo que os entrechoques mostram um convívio turbulento, em lugar da coexistência civilizada.

Depois, preparar a pessoa para o trabalho. Um trabalho que será diferente daqui a vinte e cinco anos. Não podemos nos iludir. A maior parte daquilo que aprendemos não será necessário para sobrevivermos. As profissões do futuro, sobre as quais já me detive anteriormente, são muito diferentes daquelas de hoje. Talvez 60% do que hoje exista não subsistirá amanhã. Por isso, é preciso uma educação empreendedora, polivalente, apta ao enfrentamento de situações inesperadas.

Que tal se preparar com vistas à necessidade do empreendedor local? O chamado “think global act local” será necessário para grupos de empresários que se concentram em projetos e empreendimentos ajustados à realidade local, o que os faz deixar de lado a visão global. Ou ser geomicrobiologista, cuja função será investigar bactérias e microorganismos, com o objetivo de aplicar na rotina as suas descobertas em áreas quais a medicina, alimentação, saúde e bem-estar. Precisaremos de terapeutas experimentais, já que a vida intensamente conectada, o dia todo à frente da tela e com o uso contínuo do smartphone, fará surgir patologias visuais e cerebrais. Seu tratamento implicará em renovadas terapias e métodos.

Daqui a vinte e cinco anos precisaremos de condutores de drones, em áreas como o varejo, correios, segurança, monitoramento, documentação e registro de eventos, festas e até sepultamentos. Haverá necessidade de guias experientes.

Mas vamos também necessitar de conselheiros pessoais de compras alimentares. As pessoas estarão mais preocupadas com a alimentação saudável e procurarão quem ajuste a alimentação à vida particular e até à estrutura do DNA do contratante. O empreendedor alimentar será o profissional que buscará caminhos para a alimentação saudável e inovadora, que auxilie a solucionar a fome global. E também haverá conselheiros de produtividade, com o fim de melhorar a produtividade, combinando saúde, bem-estar, gestão de tempo, exposição online e aconselhamento de carreira. A atuação será a cada dia mais online, mediante utilização de ferramentas virtuais e holográficas.

Pensa-se mesmo em formar o desorganizador corporativo, já que as empresas vão requerer organograma mais colaborativo. Será útil aquele que embaralhe e quebre as hierarquias, com utilização de design thinking e criatividade. E o que dizer do “tutor de curiosidade”? O conselheiro que oferecerá inspiração e conteúdo para despertar a curiosidade e fomentar a descoberta, questionando modelos de ensino como os atuais, que se fundam em pautas pré-definidas.

Enfim, precisaremos estar atentos e zelar para que nossos jovens tenham o futuro promissor que almejamos para eles e não se decepcionem com a nossa falta de previsibilidade.

Fonte: Correio Popular de Campinas | Data: 23/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Inclusão ética

 A palavra “inclusão” está inserta no discurso contemporâneo. O ideal de uma sociedade inclusiva é acalentado por todas as pessoas lúcidas, que acreditam na edificação de uma Pátria fraterna e solidária, resultante do pacto federativo de 1988.

A Lei da Inclusão adota sistemática bem elaborada e, como todo o arsenal normativo de que o Brasil dispõe, atende à ordem do dever ser. Nem sempre encontra eco na realidade, tamanhas as dificuldades postas por uma série de fatores, numa sociedade heterogênea, complexa e em autêntica policrise.

Consistentes barreiras precisam ser superadas para que a inclusão se converta em realidade. Há preconceitos e pré-compreensões a serem vencidas. Ainda recentemente, ouvi de uma batalhadora nessa área, que a inclusão no trabalho é deficitária, porque em regra as empresas querem “um cego que enxergue, um surdo que ouça e um cadeirante que corra”.

A norma exige que a escola acolha o aluno portador de alguma deficiência e propicie a ele convívio no curso regular. Às vezes, sua família entende que é melhor uma assistência prestada por entidade especializada. Outras vezes, é a família do aluno considerado “normal” em sala que conta com outro incluído, que oferece resistência a esse compartilhamento.

Nem sempre existe o preparo adequado do profissional para lidar com alguém que precisa de cuidados especiais. Tem razão quem adverte que a criança especial, desde a mais tenra idade, precisa ser alertada de que encontrará mais dificuldades do que as outras e isso permanece durante toda a sua existência.

A todos é recomendável uma urgente e profunda imersão na ética. Ciência do comportamento moral do homem na sociedade. A procura contínua do bem. Nossa vocação é nos humanizar a cada dia mais. Nem haveria a necessidade de lei se nos compenetrássemos de nossa pequenez, de nossa fragilidade e, principalmente, do quão efêmera é nossa passagem por este Planeta.

Todavia, animais pretensiosos, somos egoístas, não conseguimos sequer respeitar o próximo, quanto mais amá-lo! Procedemos como se fôssemos infinitos, quando – na verdade – a inevitável, incontornável e tão democrática morte está continuamente à nossa espreita.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 25/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Você sabe gastar?

O mundo se tornou um ambiente confuso para quem se acostumou a satisfazer todos os desejos, mas não tem condições econômicas para tanto. A era do consumismo, do egoísmo, do hedonismo e de outros “ismos” faz com que a criança pense que tudo é possível, que seus pais são obrigados a atender a qualquer exigência e que se não há dinheiro, que se utilize o cartão de crédito.

Enquanto isso, a escola continua a transmitir o mesmo conteúdo que sempre transmitiu. Insiste nas aulas prelecionais, na avaliação baseada na memorização, às vezes em evidente descompasso com a vida. Compreende-se a resistência a enfrentar novos temas, pois a mudança é traumática. Inovar custa rearranjo mental, mais doloroso do que mudança física. Mas é preciso ter coragem para reconhecer que é urgente fazer com que a escola prepare para a realidade e não para o mundo que já não existe.

 As crianças precisam ter contato com a verdade das finanças. O Brasil não tem cultura da poupança. As pessoas pensam que nunca ficarão doentes, que nunca envelhecerão. Mas quando chega uma ou outra de tal situação, o governo estará a postos para socorrê-las. A situação calamitosa da previdência é resultado dessa falta de consciência. Só a educação poderá – e isso a longo prazo – corrigir a distorção.

O CONEF é o Comitê Nacional de Educação Financeira, integrado por quatro órgãos reguladores financeiros: SUSEP, CVM, Banco Central e PREVIC e quatro Ministérios: Justiça, Previdência, Educação e Fazenda. Além de quatro representantes da sociedade civil: Anbima, BMF&Bovespa, CNseg e Febraban. Incumbe a esse Comitê instituir e operacionalizar a educação financeira no Brasil.

É urgente fazer a criança pensar em como administrar dinheiro, além de prepará-la a obter, com seu trabalho, iniciativa, criatividade e empreendedorismo, o dinheiro de que necessitar para sobreviver. A educação financeira é mais importante do que a continuidade de transmissão de alguns conhecimentos que não serão utilizados durante a trajetória existencial do alunado. As finanças precisam ser incluídas no currículo escolar. Só essa postura mudará a cabeça do brasileiro quanto ao endividamento, quanto ao despreparo, quanto à previdência e quanto à necessidade de pensar no futuro. Como sempre, a educação é a chave de todos os problemas brasileiros, seja na visão macro, seja na visão micro.

Saber ganhar e saber gastar evitaria muitos dos problemas existenciais dos brasileiros de hoje. Vamos oferecer aos de amanhã o instrumental para o enfrentamento mais saudável de tais situações que angustiam e paralisam famílias endividadas, sem recursos e sem horizontes.

Fonte: Diário do Grande ABC | Data: 24/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Victor Geraldo Simonsen

Em 20 de setembro de 2016 o empresário e mecenas Victor Geraldo Simonsen completaria 100 anos. Sua história é um exemplo de como já tivemos boas experiências e iniciativas destinadas a socializar os benefícios dos avanços tecnológicos, setor em que parece estarmos a regredir.

Filho de Raquel Cochrane Simonsen e do industrial e senador Roberto Simonsen, fundador da Fiesp, Sesi e Senai, era mais novo do que Roberto e Eduardo, mas o caçula foi Fernandinho, falecido precocemente.

Estudioso e entusiasta, após seu curso de Engenharia especializou-se nos Estados Unidos e Inglaterra e assumiu a Cerâmica São Caetano, modelo de empresa com responsabilidade social. Ali havia escolas, centros recreativos, assistência médica e odontológica e um verdadeiro interesse pela vida cotidiana e pelo futuro dos empregados. Era um orgulho pertencer àquela verdadeira “família” São Caetano.

Ele quis reproduzir a prática social em Jundiaí, na Fazenda Campo Verde, no limite entre Jarinu e Jundiaí, onde descobrira uma substância necessária à indústria cerâmica. Nunca se viu nem se verá algo como Campo Verde. Preservação da natureza, incentivada com paisagismo e formação de represas nas quais navegava um iate, o Igapó, conciliada com a exploração da cultura em todos os níveis. Pavilhão de música, cinema e teatro, laboratórios, bibliotecas especializadas. E muita proteção aos animais.

Escola para os filhos dos empregados, capela, múltiplas apresentações de teatro, concertos, exposições, palestras e conferências. Sem deixar de lado o esporte e a orientação pedagógica para todos. Em Jundiaí, Dulce Ribeiro Simonsen, esposa de Victor, promoveu os Encontros Jundiaienses de Arte, incentivou artistas jovens, recebeu as visitas ilustres que vieram à cidade, inúmeras vezes concordou em praticamente esvaziar sua represa para que o abastecimento da cidade não sofresse com as crises hídricas já então frequentes.

Tudo sem desconto no Imposto de Renda, sem o sensacionalismo da mídia, mas na crença inabalável de que o ser humano é o projeto mais valioso e para o qual todos os investimentos ainda são poucos, na tentativa de redimir o Brasil do enorme atraso em verdadeiro e único desenvolvimento, que é o progresso moral.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 22/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.

 


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Escola do Futuro

A Escola do Futuro deveria ter começado há um século. Mas não é o Brasil que está em déficit com o adequado planejamento educacional. É a humanidade. Em todos os países, a escola ainda tem a mesma  fisionomia. Alunos enfileirados, o último da fila só enxerga as nucas dos seus colegas à frente. Aulas prelecionais. Disciplinas teóricas, nem sempre vinculadas com o interesse dessa geração cuja circuitaria neuronal é digital. Continuamos todos analógicos. O ambiente educacional  está precisando de um choque. Daqui a alguns anos, mais da metade das profissões hoje existentes não mais existirão. Temos de preparar a juventude  para atividades laboriais hoje ignoradas. Mais do que isso, temos de prepara-las para poder mudar de ramos sem traumas, assim que se tornar necessário.

Ou seja: a educação tem o desafio de formar pessoas polivalentes, aptas ao enfrentamento de incertezas e novidades. Hábeis em inovar e empreender. Corajosas, compreensivas, peritas em convívio e em trabalho cooperativo. A boa notícia é que a Escola do Futuro já está disponível. Quinze mil professores já gravaram aulas no Youtube e elas estão acessíveis a quem queira aprender. Centro e oitenta e um mil alunos se inscreveram para usufruir dessa aula turbinada. Alguns se miram no exemplo dos cursinhos. Outros fazem “rap”, outros ainda se utilizam de estilo repentista. Cada qual procurando tornar sua aula mais agradável, para cativar um alunado muito sábio, se tiver curiosidade e pesquisar na rede.

Estamos mergulhados na 4ª Revolução Industrial e precisamos navegar nesse mar revolto das mutações continuas, estruturais, profundas e impactantes. Os nativos digitais querem outra escola. É por isso que precisamos investir na informatização, na oferta gratuita de wi-fi, no uso pedagógico dos smartphones e de todas as outras bugigangas eletrônicas que nos permitem estar em várias partes do globo, on line e simultaneamente. O mundo novo chegou. Quem não se aperceber disso terá o mesmo destino dos dinossauros.

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 22/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.

 


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Adolescência bem aproveitada

O Programa “Escola da família” da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, completa treze anos. Criado em 2003, oficializado em 2004, na gestão de Gabriel Chalita e Paulo Alexandre Barbosa, completa treze anos bem vividos. É um reconhecido êxito nas mais de duas mil escolas onde funciona.

O intuito é saudável. Fazer a família e a comunidade participarem da vida escolar, prioritariamente nos fins de semana, dias em que não há atividade no calendário oficial. Esse é o dia para que mães e pais se reúnam dentro da Escola, com os alunos e com quem não é aluno, com outros parentes, vizinhos e todos os que se interessarem por uma educação de qualidade na Rede Pública bandeirante.

Nesses treze anos, houve 800 milhões de participações registradas, 220 mil educadores universitários beneficiados, 39 mil educadores profissionais, 206 mil voluntários envolvidos e 40 milhões de atividades realizadas.

O princípio é muito simples. O universitário que for escolhido para esse programa recebe a Bolsa Universidade, e retribui com o seu trabalho aos sábados e domingos. Cada qual oferece aquilo de que é provido. Os estudantes da Licenciatura e Bacharelado contribuem com o reforço aos alunos que quiserem ou desenvolvem jogos, atividades lúdicas, ensinam arte, treinam esportes ou atendem à demanda da clientela.

Quatro Eixos orientam esse Programa: Esporte, Trabalho, Saúde e Cultura e deles se irradia uma série de outros focos, todos voltados a fortalecer o convívio saudável entre todos os que formam a grande família da educação.

É fundamental que a Diretoria da Escola e, principalmente, a vice-diretoria, se apaixone pelo projeto e dedique a ele o entusiasmo necessário para que se sobreviva, se fortaleça e se aprimore continuamente. As crianças precisam ser convencidas de que isso é bom para elas e para a comunidade. São as maiores propagandistas desse ideal convívio em família, fazendo da escola o centro de convergência dos interesses locais.

Um dos sintomas de estágio civilizatório superior em Países considerados de Primeiro Mundo é o envolvimento entre família e escola. Nações poderosas fazem do recinto escolar um espaço de realização de todas as atividades que realmente interessam à população local. Nos Estados Unidos, por exemplo, a escola tem um auditório que serve não apenas para as cerimônias próprias aos desenvolvimento do projeto pedagógico, mas de teatro, recital de música, exibição de filmes, realização de festas e até de velórios. Isso mostra um sentimento de pertença: o equipamento público é da população. Ela não está a se apropriar de algo que é do governo, senão utilizando de maneira condizente aquilo que é dela mesma.

A família tem de estar dentro da escola, pois é esse seu dever. A Constituição da República elegeu a educação a direito de todos e dever do Estado e da família, em colaboração com a sociedade. E a Lei de Diretrizes e Bases atribuí à família, em primeiro lugar, a missão de educar.

Se a família não participar do processo educativo, o Estado sozinho não terá condições de atender aos objetivos previstos no pacto federativo para a educação pública: desenvolver todas as potencialidades da pessoa, aqui incluídos não apenas o acervo de informações, hoje disponível  a todos e acessível a qualquer portador de celular, cujo o uso é praticamente universalizado. Mais ainda: habilitar o ser educando para um exercício responsável da cidadania e qualifica-lo para o trabalho.

O Estado faz sua parte ao destinar 31% do orçamento para a educação. Mas a família tem suas obrigações e responsabilidades para que a aplicação desse dinheiro de todos – mesmo daqueles que não têm filhos na escola – seja otimizada e produza os resultados esperados.

A Escola da Família é uma adolescente bem aproveitada. Tem treze anos de experiência de crescente aprimoramento. Mas ela precisa chegar à maturidade ainda mais apta a transformar o Brasil na Pátria desenvolvida, afinada com a contemporaneidade e com uma população bem formada e cada daí mais feliz.

Fonte: Correio Popular de Campinas | Data: 16/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.

 


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Coitado dos Estados

A Federação Brasileira já foi chamada de assimétrica por Dirceo Torrecilas Ramos. Mas ela é muito mais do que assimétrica. Ela praticamente disfarça um Estado unitário, centralizado, em que a União tem todos os poderes e todas as receitas. Estados e Municípios têm de implorar, de pires na mão, as sobras do banquete federal.

Aqui a Federação começou errada. Quisemos copiar os Estados Unidos, onde os Estados Federados eram verdadeiramente “Estados”, ou, como dizia André Hauriou, “nações politicamente organizadas”. Tinham mais do que autonomia. Tinham verdadeira soberania.

O Brasil nunca teve autonomia nas Províncias. Muito menos soberania. As tentativas de secessão foram esmagadas em episódios cruentos. Ai de quem quisesse se separar. Experimentaria o cutelo do governo central. Vai daí que a parcela mínima de autonomia foi concessão do Estado Unitário.

Do Poder Central. Ali se arquitetou uma representação também falaciosa. Assim não fosse e o povo paulista teria uma representação compatível com o que deve significar uma Câmara de Deputados. Não. O paulista vale menos do que grande parte dos Estados menores, que têm ao menos 8 deputados. Nosso contingente populacional, parcela considerável do povo brasileiro, tem voto inferior. Só pode eleger 70 deputados.

Mas isso não é o pior. No sistema tributário, a União é a destinatária da maior parcela daquilo que o povo paga e devolve muito pouco a São Paulo. Por isso é que, nesta fase dramática da economia nacional, estamos em quinto lugar dentre os mais endividados. Em 2015, tivemos 167,8% de dívidas, em relação a uma arrecadação correspondente a 100%. As fontes são fidedignas: o Tesouro Nacional, o Banco Central e o site Compara Brasil.

Não consola dizer que Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro extrapolaram qualquer expectativa, pois devem, respectivamente, 216,6% e 201,1% de seu orçamento. A esperança é a renegociação das dívidas do Estado para com a União. Mas no pacote virá a proibição de aumentos, reajustes e contratações. Como é que o Estado exercerá suas atividades com esse quadro angustiante?

Só o futuro dirá.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 18/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Utopia ou retropia?

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, autor de vasta obra, já que escreveu mais de 70 livros, 30 dos quais publicados no Brasil, é um pensador muito citado por sua originalidade. Foi ele quem escreveu “Modernidade Líquida”, “Amor Líquido”, “A Riqueza de Poucos Beneficia Todos Nós?”, “Babel – Entre a Incerteza e a Esperança”, “Estranhos em nossa Porta” e muitos outros.

No próximo ano publicará “Retrotopia”, um ensaio sobre a necessidade de se voltar ao passado e não pensar em edificar algo diferente no futuro. Sem ler o livro, que ainda não foi publicado, concordo que ele tem certa razão. Já fomos muito melhores do que somos. Em termos de civilidade, então, retrocedemos aceleradamente.

Quando vejo a sujeira das cidades, as pichações, os maltratos a tudo o que é público – e, portanto, é de todos – chego a pensar como alguns pessimistas que a humanidade é um projeto questionável. Todos temos o direito de sonhar com uma sociedade mais acolhedora e uma vida decente e significativa. Só que isso não está no futuro, pelo andar da carruagem. Ou pelo ritmo das redes sociais. Está no passado.

A utopia é um lugar inexistente e que se mostra impossível de ser atingido no futuro. Já a retrotopia é o retorno ao passado, a um modo de vida “que foi exageradamente, irrefletidamente e imprudentemente abandonado”.

Quem examina a degradação dos hábitos nas últimas décadas, seja na vida pública, seja no âmbito da família, no seio da Igreja ou no estranhamento do convívio social, só pode pensar que o futuro não se sustenta como promessa rósea. Em lugar do prometido ócio, que atingiríamos com o avanço das tecnologias da informação e da comunicação, estamos trabalhando cada vez mais. Em vez da sociedade fraterna, há uma luta de todos contra todos. Onde o respeito? O brio? A honra? A polidez e a ternura?

Lutas fratricidas, ressentimentos e ódio, violência e criminalidade, tudo depõe contra o presente e anuvia o futuro. Só o passado é credor da admiração, pois já passamos por ele e temos saudades daquilo que ele nos proporcionou. O perigo é lembrar que no Brasil nem o passado é garantido. Pode ser alterado ao sabor das forças momentâneas, como ocorria no “1984” do Big Brother…

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 15/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Famílias: digam presente!

 

A família é também responsável pela educação. Assim o quis o constituinte de 1988, ao erigir a educação a direito de todos, mas dever do Estado, da família em colaboração com a sociedade. A Lei de Diretrizes e bases vai além. Coloca a família em primeiro lugar, antes mesmo do Estado. A partir daí, nasceu um projeto de envolver a família com a escola pública, para que essa instituição imprescindível à transformações do Brasil numa nação desenvolvida conte com o apoio do núcleo primário formador do caráter das gerações.

Uma ideia que se pensou pudesse comover as consciências mais sensíveis foi a de chamar descendentes de patronos das escolas estaduais para uma verdadeira “adoção afetiva” do estabelecimento. Não é demasia esperar que um templo de ensino e aprendizado que leve o nome e um ascendente mereça o carinho de quem pretenda ver o antepassado a merecer reverência e honra, não descaso, abandono ou depredação. Aguarda-se que essa tentativa de sensibilização produza resultados mais tangíveis do que os obtidos até o momento. Mas se já se pode incluir no rol dos que responderam “presente” o causídico Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, empenhado em se aproximar de escola que leva o nome de seu tio. Também os irmãos Dora Silvia e Antonio Henrique da Cunha Bueno aceitaram retomar o contato que já possuíram com a Escola Estadual Deputado Antonio Sylvio da Cunha Bueno, o famoso parlamentar que é genitor de ambos.

O desembargador Alexandre Alves Lazarini continuará a participar das atividades na escola que leva o nome de sua mãe, Heidi Alves Lazzarini, e Maria Luiza Brant de Carvalho Freitas pretende fazer com que sua família ajude a abraçar, afetivamente, as escolas Regina Itapura de Miranda Brant de Carvalho, Jacó Itapurá de Miranda,  Herculano de Freitas e Francisco Glycério de Freitas. Que o bom exemplo venha a sensibilizar outros nomes. Basta examinar os patronímicos das escolas estaduais e ver-se-á que há muita escola a necessitar de carinho. Para resgatar a ideia de pertencimento do colégio essa intimidade pode ser a chave da transformação.

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 15/09/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.