Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.


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O caminho de volta

Tudo indica não ter sido fácil a rota da civilização. Frágil e só, o humano teve de aprender a enfrentar as dificuldades sem um manual de sobrevivência. Abrigar-se nos refúgios naturais, alimentar-se à base da experimentação, intuir o que traria perigos e em quem e no que depositar confiança.

Depois começou a se comunicar pela palavra, exprimir seus pensamentos, tentar compreender o universo e a imensidão do espaço imaginativo, talvez maior e mais surpreendente do que o cosmos.

Teve de adotar regras de conduta. Avaliar os riscos. Prever as consequências de seus atos. Foi longa a caminhada até considerar-se em equilíbrio consigo mesmo, com o próximo, com a natureza e com a transcendência.

Mas esse equilíbrio não é permanente. A estrutura tensional dessas esferas é suscetível a turbulência. O ser humano é desprovido de um certificado de garantia. Ninguém é o mesmo durante todo o tempo. O “eu” depende das circunstâncias.

Se isso acontece comigo, acontece também com os do meu convívio. Estamos todos à procura do autoconhecimento e da melhor compreensão do outro. Quantas decepções! Quantos desenganos! Se nossa consciência permitir, devemos aceitar que também decepcionamos e frustramos quem confiou em nós.

E em relação à natureza? Dela nos servimos como perdulários herdeiros de uma fortuna gerada sem a nossa participação. Dilapidamos com presteza esse patrimônio que não construímos, colhendo as consequências dessa insensatez.

Se cultivamos a egolatria, nos afastamos da transcendência. Bastamo-nos a nós mesmos. Satisfazemo-nos com o nosso minúsculo e medíocre quintal. O mais não guarda pertinência com as nossas cogitações.

É o que explica a era de aparente insanidade em que vigora a intolerância, a ira, o transbordamento dos impulsos até à violência a manifestar-se sob inúmeras formas.

Será possível a pausa prudencial da sensatez para a retomada de outra trajetória? Conseguiremos fazer o caminho de volta, para verificar em que encruzilhada perdemos o rumo e deixamos a rota do crescimento ético para mergulhar na barbárie? Sem isso, não será fácil acreditar que a humanidade evolui, ainda que gradual e lentamente, em inexorável marcha rumo à perfectibilidade.

Fonte: Jornal de Jundiaí| Data: 29/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo.

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Juízo, por favor!

O Brasil precisa tomar juízo. Cenas como as veiculadas nos últimos dias em nada auxiliam o pro­cesso de recuperação do qual dependem milhões de brasileiros.

A instantaneidade das comunicações e das infor­mações garante que fatos ocorridos em qualquer lugar do mundo ganhem o noticiário on-line e adquiram re­percussão imediata. O Brasil passa a figurar no cenário mundial como um espaço sinistro, em que não existe ordem, autoridade, disciplina e convívio civilizado.

Sabe-se que não é assim. A imensa maioria da população continua a viver e a carregar o seu fardo. A legião de trabalhadores que não perdeu o emprego prossegue a enfrentar a luta diária. Estudantes vão às aulas, os professores ensinam, as mães perseveram no treino social da prole e nas várias jornadas que lhes são impostas: são ecônomas, administradoras do lar, mestras, enfermeiras, assistentes sociais, psicólogas, solucionadoras de problemas gerais, além de ternas companheiras.

Essa é a realidade nacional. O Brasil continua como sempre esteve. Dramas particulares, alegrias domésticas, tudo funcionando como a vida rotineira costuma funcionar. Só que esta é a era da pós-verdade. Prevalece a versão. E a versão nem sempre — ou qua­se nunca — vai coincidir com a verdade.

Quem assiste às cenas dantescas de edifícios depredados, incendiados, disparos e agressões, nunca pensará que este imenso País tem um povo pacífico, mais preocupado com a sobrevivência e com a admi­nistração das vicissitudes pessoais do que com a polí­tica, a macroeconomia e os mercados.

O planeta globalizado e cada vez menor é sacu­dido pelas sensações. E a sensação gerada pelo notici­ário é propícia a gerar percepções falaciosas. O Brasil de quem se acredita já tenha sido alvo da grosseria de um famoso Chefe de Estado – “o Brasil não é um país sério” – passa a se hospedar na mentalidade alieníge­na. É fácil acreditar que a exótica terra dos papagaios e dos macacos esteja mergulhada num caos.

Qual o custo disso?

O dinheiro volátil procura pousos mais tranqui­los. A credibilidade no País retorna a índices mise­ráveis. O aceno de investimento externo recua. Isso representa aumento dos milhões de desempregados, a fuga dos empreendedores, um preço excessivo sobre a Nação, e que vai onerar os mais vulneráveis.

É claro. Os fortes têm por si blindagens que não socorrem os hipossuficientes. A articulação que gerou os últimos episódios evidenciou que os delatores tira­ram enorme proveito da delação. Ganharam dinheiro com a previsibilidade do estrago que causariam e des­frutam da sofisticação tranquila dos que estão acima dos males que afligem a massa.

Já os que dependem do seu esforço físico para obter o alimento de cada dia, o sustento de sua família, a satisfação das obrigações assumidas, estes sofrerão ainda mais.

O Brasil não acabou por causa da intensificação das crises. Mas sai golpeado, gravemente ferido, cam­baleando. E para retomar equilíbrio e status precisa de nobreza de caráter. Desde os lares mais modestos, na preservação dos valores, até àqueles detentores de qualquer autoridade. O momento exige sensatez, pru­dência, desprendimento e heroísmo.

Uma história impregnada de sólidos alicerces morais não pode ser negligenciada, nem reescrita em tom de farsa. A confraria do bem precisa estar unida, esquecer divergências, insistir na compreensão e na tolerância das opiniões não coincidentes.

A busca de consensos, a preservação da ordem e a edificação de clima favorável à convivência harmô­nica é o principal. Apegar-se à tradição e ter presente que o País, embora jovem diante de nações milenares, tem um pacto federativo suficientemente estável para suportar dois impeachments, várias profundas mudan­ças de rota monetária, tantos outros transtornos, sem qualquer ruptura da estabilidade institucional.

As crianças que aqui nascem precisam contar com uma sociedade madura, estruturada em crenças que permitam confiar na racionalidade da espécie. Elas não merecem assistir a degradantes manifesta­ções de barbárie, que prenunciam descompromisso com a civilização.

É preciso muito juízo, outra matéria-prima que, assim como a ética, parece faltar ao Brasil destes dias.

Fonte: Correio Popular | Data: 26/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo.

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A natureza é sábia

As mudanças climáticas são produzidas pelo homem, espécie que se considera racional, mas que tem comportamento insensato. No afã de dominar a natureza, não sabemos conviver com ela. Só sabemos destruí-la. Estamos condenando as futuras gerações a uma ausência de futuro, se continuarmos na sanha de extinção da mata, poluição da água e eliminação de todas as outras vidas. Aqui está incluída a vida humana: somos campeões em homicídios. Matamos 60 mil seres humanos por ano! E ainda nos espantamos com as guerras que continuam a acontecer em outras partes do mundo, acreditando que somos pacíficos!

Pois vamos colher as consequências da crueldade. Ao eliminarmos o habitat, nós acabamos com a vida animal. Não é só passarinhos os que banimos e continuamos a aprisionar os que restam. Animais de grande porte encontram-se na lista de extinção e ninguém parece acreditar que eles são essenciais para garantir a saúde do ambiente.

Os herbívoros de grande porte, aqui incluídas as antas, os muriquis, as cutias e os tucanos, são os únicos que conseguem engolir os frutos maiores, cujas sementes têm diâmetro superior a 12 milímetros. Quando impedimos que eles se reproduzam, estamos fazendo com que as florestas vão aos poucos desaparecendo. É que eles são frugíveros, dispersores de sementes das árvores de madeira nobre. A floresta vai empobrecer e suas árvores não vão conseguir sequestrar o CO2, gás do efeito estufa.

Isso não é invenção ou palpite. É resultado de uma pesquisa levada a efeito na UNESP de Rio Claro e liderada pelo pesquisador Mauro Galetti. Sua equipe concluiu que a defaunação, ou progressivo esvaziamento de florestas aparentemente saudáveis, é um fenômeno em pleno e crescente curso. E isso acontece principalmente na Mata Atlântica, praticamente extinta e a mais maltratada pelos humanos.

É a chamada “síndrome da mata vazia”. Mesmo que a floresta pareça preservada, sofre com a crueldade de caçadores que matam os grandes animais e estes são os naturais “jardineiros” do verde. Sem descendência animal, os frutos não são mais comidos e as árvores maiores também não deixam descendentes. Isso significa mais carbono à solta. Cada hectare da Mata Atlântica, segundo os cientistas, deixa de absorver até 4 toneladas de carbono. A natureza é sábia. Nós é que não aprendemos suas lições.

Fonte: Diário de São Paulo | Data: 25/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo.

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A vez das cidades

Tempos de crise não têm de ser necessariamente desesperadores. Se o desalento parece tomar conta da população e todos têm ao menos um motivo para alimentá-lo, nem por isso precisamos permanecer inertes, à espera que milagres ocorram ou que surja um salvador da Pátria.

Há situações que não podemos alterar. Não depende de nós transformar a realidade em relação a coisas que não estão ao nosso alcance. Mas existem outras perfeitamente factíveis.

Penso nas cidades menores, naquelas em que todos se conhecem e nas quais andar pelas ruas é um exercício de amizade. Abraça-se alguém, há uma parada para uma conversa rápida ou comprida, mas cumprimenta-se todo o mundo. Sabe-se o nome das pessoas, conhece-se sua família, sua história.

Tais microcosmos são inúmeros. São Paulo tem 645 municípios e mais de um terço deles inclui-se na categoria de pequenas dimensões. Aqui está a vantagem evidente em cotejo com as metrópoles e as macrópoles – conturbações imensas que emendam Campinas e São José dos Campos a São Paulo.

O Prefeito dessas cidades conhece todos os cidadãos e pode atuar junto a eles para que se estabeleça uma coesão de propósitos, adote-se uma linha de trabalho, escolha-se uma estratégia para sobreviver à crise.

É nas pequenas comunidades que se pode subsistir com dignidade, a despeito das carências, das insuficiências do Erário e da queda permanente e, infelizmente, crescente de arrecadação.

Mostrar às crianças nas Escolas que o Brasil é maior do que os seus problemas e que todos podemos fazer alguma coisa que permita nutrir a esperança em dias melhores, é algo perfeitamente factível. Estimular alunado e Magistério a cerrar fileiras em torno ao ensino/ aprendizado é a melhor lição que se pode, nestes momentos trágicos, ministrar a uma cidadania sequiosa por enxergar perspectivas que as altas esferas não conseguem exibir.

Há prefeitos que já se imbuíram dessa missão redentora. Estabeleceram como que uma blindagem que protege seus municípios da ação devastadora dos que não têm nada a temer. Imbuíram seus munícipes da responsabilidade que lhes cabe em relação a temas cruciais, quais a educação e a segurança pública.

É a vez das cidades mostrarem ao Brasil que esta República Federativa tem futuro e este só depende de cada um de nós.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 22/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo.

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O Brasil precisa saber

São Paulo tem centenas de milhares de profes­sores. Só a Rede Pública Estadual tem 230 mil do­centes. A despeito das dificuldades agravadas por uma policrise que está longe de terminar, a imensa maioria dos mestres prossegue na missão de ensinar e desen­volver o aprendizado de nossas crianças e jovens.

Há inúmeros heróis anônimos nas salas de aula, principalmente na escola pública. Há milagres aconte­cendo todos os dias, nos três turnos do ensino, mercê do empenho e da paixão de quem se propôs a ensinar.

Mas nem todos sabem que isso ocorre. O Prê­mio “Professores do Brasil” está em sua décima edi­ção. Os docentes paulistas nem sempre concorrem. Agora é a hora de alavancar as inscrições e mostrar ao Brasil o que São Paulo faz e sempre fez com excelên­cia. O Prêmio se propõe a reconhecer, divulgar e pre­miar o trabalho de professores de escolas públicas de educação básica que contribuem para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem. O propósito é valorizar os professores da Rede Pública que têm cria­tividade, engenhosidade e audácia para experimentar novas estratégias.

A participação dará visibilidade a experiências pedagógicas consideradas exitosas e que possam ins­pirar outros professores, os sistemas de ensino e as instituições formadoras.

São seis categorias que podem concorrer: cre­cheeducação infantil, pré-escola, Ciclo de Alfabetiza­ção – do 1º aos 3º anos iniciais do Ensino Fundamental, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano, os anos finais do Ensino Fundamental e a última cate­goria é o Ensino Médio.

Na etapa estadual, os 486 trabalhos seleciona­dos pelos comitês estaduais receberão certificados em homenagem ao seu desempenho e os 162 professores selecionados como o melhor de sua categoria passarão para a etapa regional.

Na etapa regional, os 30 vencedores receberão, cada um, R$ 7 mil (sete mil reais) e troféus. As escolas dos 30 vencedores também serão premiadas com pla­cas comemorativas e equipamentos de informática e softwares com conteúdo educacional. Na etapa nacio­nal, cada um dos seis vencedores – um por categoria – da etapa nacional receberá R$ 12 mil reais e o troféu.

Haverá premiação em temáticas especiais. Quem concorre na categoria pode se inscrever uma vez mais e se inscrever em uma das quatro temáticas especiais: 1. Esporte como estratégia de aprendizagem. Ativida­des pedagógicas que representem efetivas soluções de transformação por meio do esporte e seus valores. Se­rão premiados até 5 professores de Educação Física com visitação ao Núcleo de Alto Rendimento Espor­tivo de São Paulo. As escolas dos relatos vencedores receberão ainda um kit de miniatletismo.

A 2ª temática especial é Conservação e Uso Consciente da água. Atividades pedagógicas que de­monstrem incentivo à conservação dos recursos hídri­cos, à reflexão sobre o uso consciente da água. Serão premiados até 6 professores e o prêmio constituirá a participação no Fórum Mundial da Água em 2018, a ser realizado em Brasília.

Uso de Tecnologias de Informação e Comu­nicação no processo de inovação educacional. Busca premiar atividades que utilizem as tecnologias da in­formação e comunicação como ferramenta de ensi­no-aprendizagem. Três professores receberão, cada um, R$ 5 mil.

Estímulo ao conhecimento científico no Ensi­no Médio. A intenção é premiar relatos que demons­trem inovação em sala de aula por meio de práticas e experimentos científicos que estimulem o interesse dos alunos pela área de Ciências e Matemática. Será premiado um professor do Ensino Médio que receberá uma viagem para a Inglaterra em 2018.

As inscrições estão abertas até 25 de agosto. Para saber mais, o interessado deverá acessar pre­mioprofessoresdobrasil.mec.gov.br. Haverá até um aplicativo para facilitar a inscrição. Os professores de São Paulo têm muito o que mostrar e o Brasil pre­cisa saber disso!

Fonte: Correio Popular | Data: 19/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo

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Quem quer tornar o mundo melhor?

Um dos raros consensos nesta era de controvérsias é o de que todos querem construir um mundo melhor. Isso é impossível? Não. Quem tem vontade, quem sonha, quem é idealista, é movido por um ingrediente mágico: o entusiasmo. Como dizia Jacques Cousteau: “Não sabia que era impossível, foi lá e fez! ”.

A juventude é a mais propensa a essa coragem de mudar o mundo. E uma oportunidade de ouro surge com o Prêmio “Zayed – Energia do Futuro”. A partir da constatação de que o meio ambiente está mais contaminado, as fontes de água potável diminuem, o custo da energia aumenta, o estudante pode ser estimulado a usar sua criatividade e engenhosidade para ajudar a salvar o planeta.

Os Emirados Árabes se preocupam com o futuro da Terra. Estão convencidos de que as melhores ideias são produzidas por jovens. Em 2016, uma escola de Taquarituba foi finalista e os alunos e professores passaram duas semanas em Dubai. Experiência fantástica, que pode se repetir para tantos outros estudantes de São Paulo.

O prêmio de até 100 mil dólares tem por objetivo compensar as melhores soluções nas áreas de meio ambiente e sustentabilidade oferecidas pelos alunos.

Como é que se pode participar? Basta ir ao site http://www.ZayedFutureEnergyPrize, registrar-se de acordo com cinco passos: 1) Formar uma equipe dentro da escola, formada por estudantes, professores, diretores e ou pais; 2) Recolher ideias e conversar com especialistas; 3) Criar um plano de projeto, explicar o que se pretende alcançar, como irá concretizá-lo e quais os custos envolvidos; 4) Familiarizar-se com o processo de apresentação de suas ideias e preencher o formulário encontrado naquele endereço da Web; 5) Enviar o formulário com apenas um clique. Se ainda houver alguma dúvida, enviá-la ao endereço eletrônico latam@zfep.ae.

Vamos ver se em 2017 São Paulo faz bonito outra vez. O Brasil sempre foi pioneiro em sustentabilidade, ideia criada por um brasileiro, o cientista Paulo Nogueira Neto, primeiro Secretário do Meio Ambiente da República. Só posteriormente é que o Brasil passou a contar com um Ministério do Meio Ambiente.

Fonte: Diário de São Paulo| Data: 18/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.

 

PREMIO INTER


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Qual a melhor tela?

Estou falando da superfície plana pela qual participamos do universo das comunicações. Até há pouco, era a tela da TV. Hoje, é aquela que estiver mais disponível. A que estiver perto de nós e com acesso fácil. Já estamos na fase em que a forma de transmissão será menos importante do que o conteúdo.

O futuro acena com uma espécie de enorme biblioteca provida de vídeos. Poderá ser explorada por busca ou por meio da recomendação de algoritmos suficientemente inteligentes para detectar nossas preferências.

Isso mostra que, em breve, cada indivíduo será seu próprio programador. Teremos imenso cardápio à disposição, pois haverá sequência de vídeos personalizados, desvinculados de uma estrutura generalista. O consumidor, considerado o hipossuficiente até pelo seu próprio Código de Defesa, como se fora alguém indefeso perante a volúpia do fornecedor, será o ditador das regras. Só sobreviverá aquilo que ele quiser.

Aquilo que parecia o futuro, a TV paga a disponibilizar inúmeros canais, já está em crescente desuso e parece obsoleto. Não há necessidade de centenas de canais. O telespectador se torna seletivo. Ele prefere assistir a uma série. Conheço pessoas que ficaram durante o fim de semana inteiro a assistir todos os episódios em sequência. Não interessa ficar zapeando e dispor de um cardápio em que a maioria das ofertas não atrai quem paga.

Amanhã, poucos pagarão por TV por assinatura tradicional. Mas poderão assinar serviços de vídeo pela internet. Isso já ocorre nos Estados Unidos, onde o grupo tem o nome de “cord never”, ou seja, “cabo, nunca”. É uma revolução que dispensará cabeamento, fibras óticas, toda a infraestrutura que residirá nos satélites, cada vez mais potentes

Não existe necessidade de criação de uma legião de cativos da TV, a não ser em algumas excepcionalidades. Por exemplo: nada substitui o prazer de assistir a um jogo em tempo real. Um experimento já levado a efeito no jogo Atlético Paranaense versus Coritiba foi a transmissão pelo YouTube e Facebook. Quase 3 milhões de pessoas assistiram ao jogo pela rede! Muito mais do que a população de Curitiba! É o mundo novíssimo que já chegou. Percebamos ou não!

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 18/05/2017

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Não é impossível

Um dos problemas aparentemente insolúveis do Brasil é a avassaladora produção de lixo. Somos campeões mundiais no desperdício. Em todas as áreas, em todos os lugares. Em tempos de orçamento contingenciado, porque a arrecadação só faz permanecer em queda, mercê da trágica recessão em que o País se viu mergulhado, milhões são gastos na coleta de resíduos sólidos e na limpeza de logradouros públicos.

Na verdade, o que falta é educação. Aquela boa educação de berço que era transmitida em casa, primeiro e principalmente pelas mães. É melancólico verificar que, independentemente da escolaridade, a inconsciência ambiental prepondera. Joga-se em qualquer espaço aquilo que poderia ser aproveitado e que não deveria onerar o Erário, tão necessitado de melhor destino, pois imensas as carências da população.

Essa ausência de responsabilidade se estende em escala preocupante. Não se justifica numa Nação que se diz civilizada, existir desmanches, lixões e mesmo aterros sanitários. Estes são fonte de contaminação do solo e do lençol freático. Disseminam pestes, causam epidemia, além da agressão estética e higiênica.

Entretanto, quando se quer, é possível enfrentar de outro modo esse problema. Há empresas que, ao surgir da ética ambiental de alguns poucos, se encarregam de recolher toda a alimentação que se desperdiça e de transformá-la em material para insumo da agricultura. Aquilo que seria misturado a outros elementos e que demoraria para dissolução na terra, é rapidamente convertido em fertilizante orgânico.

Até mesmo o esgoto doméstico pode ser utilizado para voltar à natureza sob a forma de água limpa e de nutriente para o solo. Isso já se faz no Rio de Janeiro, em duas empresas, ambas situadas no município fluminense de Cachoeira do Macacu. Foram objeto de interessante reportagem de André Trigueiro, ambientalista militante que é um propagador das boas práticas e atua na área há várias décadas.

Quando se quer, é possível conferir à Terra um tratamento condigno com sua importância, já que ainda é o único planeta onde ainda podemos viver. Enquanto os bons exemplos não são seguidos por todos os Municípios, em cada lar a conversão pode começar, mediante sadia formação dos filhos, para que sejam amigos da natureza, não seus destruidores.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 15/05/2017

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A escola do amanhã

A questão básica do mundo contemporâneo é a educação. Chave de resolução de todos os problemas humanos. Sem exceção. Não há tema preocupante da lucidez que ainda resta, que seja insuscetível de ser enfrentado, debelado, ou ao menos atenuado mediante consistente formação educacional.

Educação como direito de todos, mas dever do Estado e da família, em colaboração com a sociedade, como assevera o constituinte de 1988 no artigo 205 do pacto fundante. Mas essa educação de consistência, que atenda simultaneamente à sua tríplice função de permitir o desenvolvimento integral da personalidade, até que se atinja a plenitude possível, a capacitação para o exercício da cidadania, e a qualificação para o trabalho, é alvo de muitas críticas. Justas e legítimas quase todas elas.

A República dos direitos e da hermenêutica pro­duz uma proliferação de diagnósticos. Há receitas para todos os gostos. Os resultados nem sempre garantem a adequação do tratamento.

É que todos estamos no turbilhão da 4ª Revolu­ção Industrial, com a instantaneidade das comunica­ções obrigando a consciência a lidar com o inesperado e a sobreviver no mundo em que a incerteza é a única certeza com que se pode contar.

A mutação é acelerada e surpreendente. Os apa­relhos de comunicação móvel, com seu crescente mul­tiuso, substituíram os telefones fixos. Estes tendem a desaparecer. A internet das coisas prenuncia uma era de produção doméstica de uma série de objetos que deixarão de ser comprados. A Noruega já abandonou a rádio FM e mergulhou, de vez, na era digital. As novas gerações já nasceram com chips, antenadas e aparen­temente dependentes das novas tecnologias.

Enquanto isso, a escola preserva o padrão das aulas prelecionais, quase sempre desvinculadas da vida concreta. Carteiras enfileiradas, propiciando ao último da fila enxergar a nuca dos seus colegas à frente, com o professor ao fundo a falar de assuntos desinteressantes.

Enquanto isso, o smartphone é acessado mais de cem vezes por dia. As profissões que oferecemos à ju­ventude, no cardápio tradicional, não existirão dentro de vinte anos. Assim como uma das mais ambiciona­das nos Estados Unidos —criador de conteúdo para o Youtube —não existia há dez anos.

A defasagem no ensino é menos percebida pelos responsáveis e intuída pelos alunos. Tanto que a eva­são no Ensino Médio é uma realidade incontornável. Enquanto a criança ainda consegue permanecer na sala de aula, e continua a ser estimulada a responder aos estímulos professor, o jovem tem outra percep­ção. Não enxerga a valia daqueles conteúdos descon­catenados de inúmeras disciplinas, todas obrigatórias, algumas das quais não o atraem.

Alguns pais concluem que a escola não corres­ponde ao seu ideal de formação, que se pretende com­pleta em relação à personalidade dos filhos e aceitam o desafio de uma educação doméstica. Não deixa de ser um sintoma da insatisfação com a estrutura atu­al da educação formal. Enfatizese que isso ocorre no mundo inteiro, com intensidade menor no Brasil, onde as “ondas” chegam com natural atraso.

O certo é que a informação nunca esteve tão disponível e acessível a quantos tenham curiosidade. Navegar pela internet permite desvendar um univer­so de conhecimentos muitas vezes superior àquele de domínio dos sábios antigos. Bibliotecas das maiores Universidades, centenas de milhares de livros, teses, dissertações e ensaios propiciam a quem queira apro­fundar seus estudos.

A escola do amanhã precisará ser um espaço aberto e flexível para que os talentos individuais pos­sam desabrochar. O professor do futuro, mais do que transmitir conteúdos, servirá melhor à causa se for um coordenador das pesquisas, um orientador do autodi­datismo, um incentivador da busca individual de um crescimento contínuo.

Investir na formação desse profissional é imen­so desafio. A prioridade é encontrar vocações de alfa­betizadores, pois tudo tem início na primeira infância. Quem é cedo despertado pela sede do saber nunca abandonará a trilha apaixonante a ser percorrida, de maneira incessante, para conhecer mais e melhor os instigantes mistérios da existência.

Fonte: Correio Popular | Data: 12/05/2017

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Foto: Daniel Guimarães/A2IMG

 


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Sou parte da solução

Há tempos havia uma propaganda interessante. Dizia mais ou menos: “Quem não é parte da solução, faz parte do problema”. É o que se pode pensar em relação aos inclementes e crescentes maus tratos cau­sados à natureza. Há quem negue o aquecimento glo­bal. Acha natural que o clima pareça a cada dia mais imprevisível. Não estranha inundações, secas, venda­vais, ciclones, tsunamis, furacões e tremores de terra onde isso não costumava ocorrer.

Os céticos acreditam que tudo é fenômeno na­tural e que em seu trajeto pelo Cosmos, o Planeta já enfrentou outras eras. Isso é verdade. Só que ele não possuía quase 8 bilhões de pessoas respirando, co­mendo, defecando e produzindo poluição.

O comodismo leva a uma inércia. O que pos­so fazer diante dos descalabros que são causados por grandes atores, não por mim, um mísero indivíduo. Os mais sensíveis sabem que podem e devem fazer algu­ma coisa. E o que seria essa “alguma coisa”?

Desde gestos triviais, como coletar sementes, produzir mudas, repor árvores, formar hortas, jardins e pomares, como atuar na condição de fiscal da ci­dadania ecológica. Cobrar das autoridades municipais o zelo obrigatório que elas devem ter em relação à ecologia. Proteger as áreas reservadas por seu valor ambiental. Participar de discussões pela internet para pleitear responsabilidade de agentes de autoridade, seja de que nível for. Denunciar crimes, ilícitos civis e administrativos perpetrados contra a natureza. Fazer abaixo-assinado para mostrar que a cidadania respon­sável não concorda com o desmatamento, com a po­luição da atmosfera, da água, do solo, do patrimônio cultural.

Ninguém é tão desprovido de poder que não possa fazer algo em favor do ambiente. Pense-se na inacreditável produção de resíduos sólidos. O Brasil é o maior produtor de lixo que existe so­bre a face da Terra. É enorme o desperdício de alimento, de material de construção, de papel, de tudo o que é reaproveitado nos países ricos mas que aqui, nesta situação de indigência econômica em que o Governo se encontra, não merece aten­ção daqueles que são prejudicados pela deteriora­ção ambiental.

Somos parte da solução ou estamos ao lado da­queles que afligem a Gaia angustiada, que já se cansou de emitir sinais de exaustão, que ainda não atingiram nossa verdadeira surdez moral.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 11/05/2017

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo

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