Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.


2 Comentários

Sua excelência, a mãe

A mãe é a personagem principal na formatação do destino do filho. Sente-se hoje, com incrível intensidade, a influência materna no traçado do destino de uma pessoa. Reverencio a mãe, a primeira e insubstituível mestra, a artífice do caráter de sua prole, a executora do mais autêntico e importante dentre os currículos: o currículo implícito ou oculto, cujo conteúdo são as mais relevantes normas para o convívio. As regras do bem viver.

Bem viver que significa conviver. Saber respeitar o semelhante. Todos somos muito mais parecidos do que diferentes. Não é errado afirmar que somos irmãos. Ao menos, primos próximos, portadores de idêntica base genética. Mínimas as distinções do DNA que provou, cientificamente, inexistir razão para preconceito ou descriminação.

Lembro-me das mães por inúmeros motivos. A falta que minha mãe me faz, após quase onze anos de partida. Ainda ouço os seus conselhos. Adivinho o que ela me diria em situações ora enfrentadas.

Penso nas mães que têm a enorme responsabilidade de transmitir aos filhos as lições de vida para uma era de incerteza, de insegurança e de certo desalento generalizado em relação à insegurança em todos os aspectos. Não se sabe o que será o futuro, tudo o que era sólido – o capítulo dos valores – de repente se liquefez. Mais ainda: evaporou-se. Perdeu-se na atmosfera viciada de contaminação dos hábitos civilizados.

Vejo que a descoberta de um texto inédito de Machado de Assis procura refletir a dor da perda materna. O nosso maior literato perdeu a mãe aos 9 anos. Para a vida toda levou esse fardo: administrar o vazio que a morte da pessoa mais importante em nossa existência deixa e que nunca será outra vez preenchido.

Já se anunciava o grande romancista, perito conhecedor da alma dos homens, nessa crônica/lamento: “Eu era pequeno, era feliz; porque não conhecia os enganos do mundo…inocente corria por entre campinas, colhia flores e ia derramá-las sobre minha mãe…Oh! Eu sou infeliz, muito infeliz…Aos 9 anos perdi minha mãe, fiquei só no mundo; só como a rola sem ninho! Entrei no mundo das desilusões e dos desenganos…E haverá quem não chore uma mãe? Quem não sinta um vácuo no coração quando uma lágrima se desliza sobre o tumulo de uma mãe? Como eu sofro! Minha mãe, lá da mansão dos justos, lança a benção sobre teu filho, pede a Deus pela felicidade do padecente…Eu sem ti, chorarei sem consolação”.

Quem sente a orfandade sabe que isso é real. E orfandade não em idade. Ela machuca em qualquer fase da existência.

Aqueles que têm a ventura de ter mãe, não economizem carinhos. Ela merece tudo e mais um pouco.

Uma palavra a mais para as mães que têm responsabilidade redobrada nesta época em que os valores se fragilizam e desaparecem, deixando um travo amargo de desilusão. É preciso renovar a esperança em dias melhores. Os homens nasceram para crescer em felicidade. Não é fácil encontrar motivos para ter confiança no futuro. Mas o colo da mãe, refúgio blindado para o infortúnio, ainda é o ambiente mais propício para devolver ânimo e coragem.

O Brasil é maior do que as crises. Confiemos em nossa infância e em nossa juventude. Mães: reforçai esse contingente, muni-o de fé e certeza de que um porvir menos plúmbeo nos espera, se soubermos construí-lo com trabalho, empenho e sacrifício.

Não há quem substitua a mãe na capacidade que tem de moldar a personalidade da criança que gerou, amamentou, acompanhou e o acompanhará enquanto ela viver. E depois, como afirmou Machado de Assis, continuará com ele, a pedir a Deus pela felicidade do padecente.

Fonte: Correio Popular de Campinas | Data: 26/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.

pregnant-woman-1314177

Imagem


1 comentário

A única meta

A competitividade contemporânea nos impõe ritmo alucinante. Atingir escopos, perseguir metas, chegar lá. Lá onde? Píndaro observou: “Chega a ser o que és!”. O que ele quis dizer? Nascemos biologicamente depois dos nove meses de gravidez. Começamos a respirar. Deixamos o conforto cálido de um útero materno, envolvido num líquido amorável e penetramos na crua realidade. Por isso choramos ao nascer.

O enfrentamento do mundo real nos impõe outros nascimentos. Renasce-se com a educação. Educar é treinar para os desafios da existência. Desafios cruéis, pois o mundo não perdoa. Bem por isso, o projeto educacional precisa ser consistente e muito sério.

A obrigação do educador é educar-se continuamente, assumindo a estratégia de conhecer-se cada vez melhor, conhecer o mundo e só então passar a intervir na mente alheia. Mente em formação, do ser educando que é tábula rasa. Lousa vazia, na qual se escreverá uma história. Da qual o mestre é um coautor.

A política pública da educação é missão de todos, conforme o constituinte disciplinou: educação, direito de todos, mas dever do Estado, da família e da sociedade. O que se pode fazer? Muito. Mobilizar todos os recursos – financeiros, materiais, mas também os intangíveis: esforço, entusiasmo, idealismo, força de vontade – para gerar cada vez mais conhecimento e engajar o maior número de pessoas para promover a educação integral.

Como é gratificante verificar a boa vontade de quem quer repartir o seu conhecimento com o próximo. É um “ganha-ganha”, pois quem se propõe a ensinar, aprende com o ser educando.

A sociedade brasileira precisa acordar e levar a educação a sério. Cada um, no seu ambiente, cobrar-se mais e cobrar de quem puder o engajamento integral. Motivar os outros. Contaminar aqueles que estão inertes, adormecidos ou anestesiados. A visão que se exige do patriota hoje é ser transformador de valores e atitudes em prol da educação.

Não há lugar para o desânimo. Substituir a parêmia: “Se ficar o bicho come; se correr o bicho pega”, por um terceiro e estimulante complemento: “Se nos unirmos, o bicho foge.” É isso o que o Brasil espera de seus filhos, para o enfrentamento do árduo desafio de educar todas as criaturas. Essa a meta que o presente nos impõe.

 Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 28/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


Deixe um comentário

Os jornal dos três Fernandos

“Entre a Lagoa e o Mar” é o livro de Fernando Pedreira, recentemente publicado pela Editora Bem-Te-Vi. A apresentação é de Fernando Henrique Cardoso, amigo desde a década de quarenta. O terceiro Fernando, o Gasparian, já faleceu. É nome de Escola Estadual na capital paulista.

Os três Fernandos foram donos de “O Jundiaiense”, jornal que existiu na década de sessenta, obviamente em Jundiaí. Foi ali que um dia, em 1961, fui levar a notícia do Jubileu Áureo de vida sacerdotal de um tio, Monsenhor Venerando Nalini e o redator-chefe, Waldemar Gonçalves, me fez ingressar na “cachaça” do jornalismo.

Sou muito grato ao saudoso Waldemar. E também à imortal Chãins, a querida Jandira Miranda Duarte. Aos fotógrafos Paulo Furuta e Rigo Sanguini. Desde então, nunca mais parei de escrever diariamente. Com publicação ou não, pois sempre escrevemos primeiro para nós mesmos.

Fernando Pedreira, Fernando Gasparian e Fenando Henrique Cardoso partilharam experiências memoráveis. Uma delas, manter “O Jundiaiense”, que não merece referência nas reminiscências. Prefere lembrar a passagem como jornalista no Diário de São Paulo, Última Hora e Estadão.

Dentre os três Fernandos, Pedreira – ao contrário do que o nome patronímico possa sugerir – é um tímido. É ele quem conta: “Sou um tímido, sempre serei. Escondi-me por trás da palavra escrita. Suo muito nas palmas das mãos, demais. Muitas vezes, antes de dar a mão a um interlocutor, um recém-chegado, tento enxugá-la disfarçadamente nas calças, ou na aba do paletó, para ocultar o vexame; às vezes emudeço, já não sei o que dizer, me torço e retorço por dentro, sem motivo nenhum”.

Pouco crível para quem foi adido de imprensa da representação do Brasil na ONU, em Nova Iorque e da embaixada brasileira em Washington, durante o regime militar. Depois, no governo FHC, foi embaixador na Unesco em Paris.

A aventura de “O Jundiaiense” foi interrompida com o advento da Revolução de 31 de março de 1964. Não consta que os três Fernandos tenham vindo a Jundiaí para o encerramento das atividades de “O Jundiaiense”, que funcionava na Secundino Veiga, bem ao lado do escritório de Jacyro Martinasso.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 25/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


Deixe um comentário

A hora exata

Muitos eleitores reclamam que a política é um reino contaminado e não há mais gente séria nesse ambiente. Não é verdade. Há muitos políticos honestos, mas grande parte deles, ai sim é verdade, desistindo de oferecer seu passado e sua honra para a política, exatamente porque só encontram dificuldades. O Brasil está mergulhado numa crise que começou preocupante, passou a ser dramática e chegou a ser trágica. Primeiro cortou-se a gordura, depois a carne, agora raspa-se a ossatura. Tudo se contingencia, a arrecadação não cresce. Ao contrário: míngua aceleradamente.

O que fazer para atender a uma demanda crescente? A generalização é perigosa. Afirmar que não sobra ninguém digno de confiança no cenário da República é um exagero nefasto e contraproducente. Ainda não se descobriu outra fórmula de administrar o interesse coletivo, se não através da política partidária no modelo representativo. Bem que o constituinte de 1988 acenou com outro modelo: a democracia participativa. Mas poucos os que querem participar. Pois dá trabalho. Significa inteirar-se do problemas e procurar solucioná-los. O Brasil é integrado pela União, Distrito Federal, estados e municípios. Estes vão renovar ou ratificar seus prefeitos e vereadores no próximo outubro. Esta é a hora de todas as pessoas mostrarem se querem mesmo melhorar o convívio e promover os cargos públicos de maior relevância na cidade – onde todos moram – com pessoas dignas sérias, honestas, com capacidade de trabalhar e de entregar o melhor de si para melhorar a vida de todos.

Não adianta reclamar, xingar, vociferar e dizer que o Brasil não tem jeito, se o exercício do voto for feito sem consciente análise do perfil dos candidatos. Ninguém mora na União, nem no Estado dizia o saudoso André Franco Montoro, professor que nasceu há exatos cem anos. As pessoas moram no município! A entidade federativa mais próxima e mais importante para todas as pessoas. Por isso mesmo, a maior cautela e o maior zelo na escolha daqueles gerentes da cidade que queremos cada vez mais decente e pronta para hospedar nossos corpos e nossos sonhos.

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 25/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


1 comentário

Caiu na rede

A educação é a mais valiosa e eficiente ferramenta de inclusão com que se pode contar. Ela é responsabilidade de todos e ninguém pode se escusar de não ser chamado a participar dos debates que procuram seu contínuo aperfeiçoamento. 

Em momentos críticos é que ideias criativas podem suprir a carência de recursos financeiros e mobilizar a boa vontade e a lucidez pátria para encontrar alternativas.

Um atalho importante para a inclusão é a educação física. Nada mais atraente e sedutor para a infância e a juventude, do que a utilização de todas as potencialidades de um corpo repleto de vigor e de esfuziante vitalidade, para canalizar essas energias rumo a um processo de crescimento integral. Corpo saudável é a estrutura imprescindível para uma consciência também sadia.

Manter infância e mocidade reclusas durante longos períodos em salas de aula que ainda conservam estruturas arcaicas e superadas de distribuição do espaço físico é missão a cada dia mais impossível. Por isso o papel que a atividade física precisa exercer e suprir as deficiências do processo educativo, de maneira a seduzir essa faixa etária para a relevância do contínuo aprendizado.

Além do diálogo permanente e presencial, entre professores do mesmo estabelecimento, é conveniente se servir de maneira adequada das redes sociais. Há milhares de oportunidades acessíveis para que os interessados perscrutem por múltiplos ambientes o que pode ser feito em termos de tornar atraente o ensino e de aproveitar a sedução natural da educação física para reconduzir o egresso, aquele que se evadiu da escola, de volta ao seio acolhedor da comunidade escolar.

Para quem ainda não se acostumou a essas “viagens virtuais”, há bons caminhos para iniciar uma jornada irreversível. Pense-se no Projeto “Diversa”, plataforma de troca de experiências e construção de conhecimento sobre educação inclusiva. Tem motivado educadores, gestores de instituições de ensino, pais, pensadores e demais profissionais comprometidos com o tema. Pode ser acessado em www.diversa.org.br.

Outra boa dica é o Portal dos Professores do MEC, a disponibilizar recursos educacionais que facilitam e dinamizam o trabalho dos professores. Há sugestões de aulas de acordo com o currículo de cada disciplina e recursos como vídeos, fotos, mapas, áudio e textos. Acesso: portal.mec.gov.br/portal-do-professor.

 O Move Brasil é uma campanha aberta com o intuito de aumentar o número de brasileiros praticantes de atividades físicas, expandir e facilitar a oferta de esporte em todo o Brasil e mostrar às pessoas o esporte e as atividades físicas como algo prazeroso, e ainda capaz de melhorar a qualidade de vida e promover o desenvolvimento social. Disponível em www.movebrasil.org.br.

Para os mais interessados em esporte vinculado à educação, pois nada mais interessante para a juventude do que apropriar-se de uma modalidade esportiva, existe o Centro Esportivo Virtual, criado pelo Professor Laércio Elias Pereira, Doutor em Educação Física pela Unicamp e fundador dessa organização não governamental originada de sua Tese de Doutorado em Educação Física. O Centro congrega quase 50 mil participantes, 150 comunidades e dispõe de uma biblioteca de 50 mil documentos, entre revistas, livros, trabalhos de congresso, dissertações e teses, vídeos, legislação e outros. Consulte em www.cev.org.br.

E como estamos em época de Olimpíada, o Transforma – www.rio2016.com/educacao é o programa de educação que traz para dentro das escolas os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio em 2016. Além do acesso a diversos conteúdos didáticos, os profissionais podem participar dos cursos virtuais e dos treinamentos presenciais.

Enfim, as redes estão disponíveis para um projeto inclusivo consistente. Missão para a qual todo brasileiro consciente, lúcido e de boa vontade está sendo requisitado. E com urgência!

Fonte: Correio Popular | Data: 19/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


3 Comentários

Não morra

Esta é uma ordem insuscetível de ser cumprida. Todos vamos morrer. Sem exceção. Mas podemos ao menos adiar esse encontro com a indesejável. Cuidando de nós. Para começar, movimentando-se mais. Quem fica muito sentado não está adiando sua morte. Ao contrário: está auxiliando a ceifadeira.

Quem não se mexe tem 27% mais chance de morrer antes do tempo. Com uma hora diária de exercício, é viável reverter o prognóstico nefasto. Quantas vezes deixamos de usar a escada para subir apenas um andar? Por que nos locomovemos de carro quando podemos andar a pé? Quem já não percebeu o bom humor do ciclista?

Ficar sentado prejudica o sistema cardiovascular e ver televisão é pior ainda. Quem permanece à frente da TV por cinco horas diárias tem 44% mais riscos de morrer mais cedo do que deveria.

Isso porque ao ficar diante da TV, o telespectador se abastece de guloseimas nocivas, não se mexe, se empanturra e isso potencializa os males que nos fazem mal e ocasionam uma despedida antecipada desta aventura de existir. O mundo hoje padece de uma pandemia de inatividade física. Mais de 5 milhões de pessoas morrem no mundo por falta de exercício físico. Índice comparável ao uso do fumo e muito mais do que as mortes por aids, que atingiram 1,2 milhões em 2014.

Pesquisas recentes constataram que 23% dos adultos são inativos fisicamente e, o que é pior, 80% dos jovens. Estamos pensando em futuro próximo de obesidade e intensificação de doenças coronarianas, diabetes, hipertensão. Tudo a favorecer a amiga morte!

Não é só a questão da obesidade que está em jogo. Em cada dez casos de câncer de colo e de mama, um poderia ser evitado se o enfermo tivesse praticado exercícios físicos. Isso também vale para as doenças do coração, diabetes e até para a demência.

Como convencer quem está posto em sossego a assistir a sua série e a comer salgadinhos venenosos a abandonar o repouso e partir para a atividade corporal?

O exercício é remédio, mas é também algo prazeroso. Motiva aquele que o pratica. Dá uma sensação de bem estar. Faz ficar de bem com a vida. Restaura a autoestima. Livra a cabeça de pensamentos plúmbeos. Enfim, desligue essa TV e vá correr ou caminhar. Diga à morte que você não tem pressa..

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 21/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


1 comentário

Uma História Exemplar

A Educação Pública Paulista é uma rede que tem muito do que se orgulhar. Durante muitos anos a única formação propiciada às crianças era a dos esforçados jesuítas, expulsos do Brasil por Pombal. A partir daí, muito tempo se passou sem qualquer escola em São Paulo. Assim que proclamada a República, Prudente de Moraes quis evidenciar que a educação deveria ser uma política pública de extrema relevância. Foi assim que se procurou edificar um verdadeiro “Templo da Educação”, o majestoso prédio da legendária Escola “Caetano de Campos”. Símbolo de que a educação republicana seria universal, gratuita, plural e laica.

Desde então, quase seis mil escolas estaduais acolhem cerca de quatro milhões de alunos, complexo praticamente sem similar no planeta. Apenas os números da China poderiam se comparar com os nossos. Neste continente, não há quem nos iguale. Quantos milhares de educadores ofereceram sua vida inteira em prol da formação de várias gerações nessa História de sacrifícios, mas de muita glória. E cumpre manter viva a tradição, para que a memória desses feitos não pereça no oblívio que pode contaminar nações jovens como a nossa.

Para não deixar perecer essa história, a Secretaria da Educação vai implementar um Programa denominado “Memória Escolar, Educação e Patrimônio”, a partir da biografia do Patrono de cada Escola. O artigo 44 do Decreto 57.141, de 18.7.2011, atribui ao Centro de Referência em Educação “Mário Covas”, a missão de orientar os estabelecimentos de ensino para o desenvolvimento de projetos de preservação da sua história, da memória e do patrimônio histórico de cada um deles. Revisitar nossa trajetória no tempo fortalece vínculos e identidades, recupera o passado e fornece aos estudantes um valioso sentido de pertencimento.

Favorece a pesquisa que eles poderão fazer para reconstituir a vida do patrono, resgatando fotos, documentos, referências e tudo o que servir para evidenciar que o alunado tem razões de se orgulhar ainda mais de sua escola.
Todos estão convocados a participar desse enorme projeto, que é válido para reescrever a gloriosa História da Educação Pública bandeirante.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 18/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


Deixe um comentário

Heroísmo Anônimo

A rede pública da educação paulista é um universo complexo cuja dimensão é desconhecida da maior parte da população. Pouca gente possui a noção de seu gigantismo: quase quatro milhões de alunos, distribuídos por mais de cinco mil escolas, entregues a mais de 230 mil professores. Mais os outros profissionais da educação chegam a 300 mil pessoas, às quais se adicionam outros 100 mil inativos. A cada refeição escolar, mais de dois milhões de estudantes se alimentam. Qual é o restaurante capaz de suprir a essa demanda? 

Um corpo dinâmico, oscilante em números, diante da própria natureza da missão educativa: quantos alunos faltam por dia? Quantos professores estão hoje ausentes? A cada dia um novo flash, que nunca se repete; nunca é igual à véspera. O que se pode garantir é que o magistério paulista cumpre sua missão. A despeito das dificuldades, do contingenciamento de verbas em decorrência da crescente queda de arrecadação, que aflige São Paulo de maneira muito mais intensa que outros estados-membros menos industrializados, os professores continuam a transmitir conhecimento e experiência ao alunado. Tanto que este caminha rumo à excelência no aprendizado. Longo caminho a ser percorrido até atingir os índices do primeiro mundo. Mas a progressão é verificada a cada ano. 

Em inúmeras escolas estaduais há diretores entusiastas, que conseguem motivar toda a sua equipe e manter acessa a chama. Há professoras que conseguem maravilhas com crianças e jovens vulneráveis e que se retroalimentam de fé quando assistem ao fenômeno da transformação. Há talentos impulsionando a infância não só a se alfabetizar, mas a adquirir o amor pela leitura, compreender o significado de um processo de aquisição do conhecimento e de treinamento para a cidadania e de qualificação para o trabalho. Quando se constata o que conseguem esses heróis anônimos, com imensas dificuldades, mas com a força extraível da consciência de sua missão, conclui-se – e ainda bem! – que a educação tem jeito. É só injetar carinho em seus artífices.

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 18/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


2 Comentários

Ser um pai igual ao ‘Pai’

O dia dos pais não tem o mesmo charme do dia das mães. Natural. A mãe é o que existe de mais sagrado na consanguinidade e na psicologia afetiva. Mãe é sagrada. Já o pai, embora hoje se reconheça a sua importância, foi sempre o segundo na preferência da criança. Não concorda? Não espero que concorde. É mera reflexão, instigação e provocação.

Não se aprende a ser pai. Faz-se o caminho a caminhar. Erro e acerto, mais erros do que acertos. Descobri a excelência de meu pai quando estava prestes a perdê-lo. Não fui o filho ideal. Reconheço que ele esperava mais de mim, principalmente em outros caminhos, que não foram os que percorri, nem os que a vida me reservou.

Hoje rendo homenagens à sua estatura moral, à sua coragem, ao seu heroísmo. Todavia, principalmente ao seu desapego, à sua modéstia e humildade. Sua resignação ante as vicissitudes. Até que não suportou a morte do caçula e se consumiu também. Em compensação, não fui o pai que gostaria de ser. Troquei o convívio mais intenso com meus filhos para conferir prioridade ao trabalho.

Nisso saí exatamente a meu pai e ao pai dele, meu avô. O dever foi um censor muito severo. Nunca troquei a obrigação pelo prazer. Se hoje me arrependo, não tenho certeza de que, fora dada a oportunidade, eu faria diferente. Tive sorte ou, como digo, recebi da Providência mais do que merecia. Meus filhos varões são excelentes pais. Companheiros, amorosos, ternos, amigos presentes.

O convívio entre meus filhos e suas filhas, minhas netas, é aquele que eu gostaria de ter experimentado com eles na época certa. Minhas netas têm mais sorte do que meus filhos. Têm pais exemplares. Paradigmas. Sabem conciliar a seriedade da vida com o essencial, que é a família. Confio no futuro dessa descendência por contar com a paternidade aberta, calorosa, generosa, companheira e franca entre pais e filhos.

Meus filhos me dão a certeza de que a Humanidade não é um projeto frustrado. São pais muito melhores do que eu fui. Essa a confiança no destino de perfectibilidade das criaturas que, sendo pais humanos, têm o compromisso de tentarem lembrar, para a sua prole e com sua conduta, o Pai criador de todos nós.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 14/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


Deixe um comentário

Um outro Brasil

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, escreveu o artigo “Um Outro País”. É um estímulo a quem se desalenta com a policrise tupiniquim. O ministro observa que o Brasil obteve conquistas de valor inestimável. Estabilidade institucional, monetária e inclusão social. A certeza da impunidade é que alimenta a cadeia da corrupção. Mas o povo admira aquilo que o Judiciário realiza. Já não aceita mais do mesmo. Condena as más práticas e estas têm de cessar.

Impõe-se, todavia, a reforma política. Com três objetivos: baratear o custo das eleições, incrementar a legitimidade democrática e reduzir drasticamente o número de partidos. No modelo atual de lista aberta e voto proporcional, menos de 10% dos deputados chegam à Câmara com votação própria. Partido que existe para receber verba do povo sob o nome de Fundo Partidário e para vender tempo em TV não tem autenticidade programática. Entra no problema sério que é um Estado maior do que o PIB. O governo já não aguenta tanta estrutura pesada e o setor público precisa de urgente enxugamento. É preciso valorizar a iniciativa privada e incentivar o florescimento da sociedade civil, com empreendedorismo social, filantropia e atuação comunitária. A sociedade pode e deve criar bibliotecas em bairros, difundir o acesso à internet, manter uma praça ou apoiar uma escola.

Tudo passa pela educação. Já conseguimos a universalização do ensino fundamental, mas é preciso obter qualidade efetiva. O mesmo se diga do ensino médio, que ainda não é universal. Ao contrário: é a fase em que a evasão mais ocorre. A proposta para o ensino universitário é arrojada: instituições públicas em seus produtos, mas privadas no seu modelo de financiamento, com dotações filantrópicas, geridas profissionalmente e capazes de se multiplicar. Professores a serem recrutados em todo o planeta e aulas em pelo menos três idiomas. Tudo imerso em ética, matéria-prima hoje escassa e que não pode ser uma para o poder público e outra para o particular.

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 11/08/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.