Nossa geração falhou. Em praticamente tudo. A política tornou-se um território corrompido. A educação capenga. A economia desanda. O ambiente devastado. A confiança desapareceu. Parece que a humanidade não tem mais remédio. Para todos os lados, só se enxerga desalento.
Nem todos pensam assim. A designer indiana Kiran Bir Sethi, criadora da escola Riverside, ainda crê num futuro melhor. Se as crianças forem preparadas para um protagonismo cidadão.
Além da Riverside, Kiran criou o DFC – Design For Change, movimento que dá poder às crianças, incentivando-as a dizer o que querem e de que forma querem mudar o mundo. Esse movimento já está no Brasil, trazido pelo Instituto Alana e batizado “Criativos da Escola”. A proposta é espalhar pelo País a ideia de que as crianças podem e devem ser as protagonistas das mudanças que pretendem para o mundo.
Nossa sociedade, a partir de um momento, começou a tratar as crianças como hipossuficientes. Qualquer mãe e pai têm a experiência de que seu filho é inteligente, criativo, tem a imaginação em perfeito funcionamento, a causar surpresas contínuas e a alegrar seus genitores. Quando vai para a escola, nem sempre esses atributos se desenvolvem. Às vezes a criança fica arredia. Antissocial. Malcriada. Rebelde.
É urgente uma outra educação. Uma escola que não padronize os alunos. Que não queira apenas estimular a capacidade de memorização. Escola que anime, alegre, seja prazerosa, não represente um sacrifício.
O processo de aprendizado precisa da participação e do entusiasmo do educando. O professor não pode ser um ditador, um tirano, o chefe da disciplina. Ele tem de agir como facilitador, colaborador das ideias que nascem das crianças. Para Kiran, ele provoca, desafia, inspira e dá apoio durante o percurso inteiro. O que se busca é que as mudanças propostas façam de cada lugar um espaço ainda melhor para todos.
Os quatro verbos do DFC são: sentir, imaginar, fazer e compartilhar. Isso pode garantir uma juventude e, depois, uma cidadania mais solidária, menos individualista e egoísta do que a minha geração. Depende apenas de nós assumirmos responsabilidade pelo processo educacional, que não pode ser um programa de governo, mas é uma política pública cidadã. Interessa a todos e sem ele não haverá futuro digno nesta complicada República.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.