Cláudio Moura e Castro escreveu um provocador artigo sobre a situação educacional do Brasil. Compara o País à antiga URSS, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a expressão que ficou tradicional na segunda metade do século passado: Cortina de Ferro. Ali, havia interesse do projeto socialista/comunista de impedir que a população soubesse o que acontecia no resto do mundo. Ela precisava permanecer controlada, silente, não exigir os bens da vida acessíveis ao mundo livre. Aqui, o problema é outro. A multiplicação das vagas nas escolas não equivale a uma efetiva consistência na transmissão do conhecimento. O desprestígio à profissão do magistério caminha paralelamente a uma indigência na maior parte da escola pública.
O alunado não sabe ler e isso significa não entender o que está lendo, embora saiba soletrar. É de uma evidente miséria quando solicitado a fazer interpretações, a exprimir oralmente algo que deveria ter assimilado. A deficiência vernacular significa ausência de leitura. Quem lê no Brasil? Sempre os mesmos.
Atrai-se um número de milhares para ouvir os grunhidos de bandas que exercitam algo aproximado a música, mas que é mais percussão e gestual do que harmonia. Não hesitam em permanecer em filas para adquirir ingressos cuja soma seria suficiente para aquisição de pelo menos dez livros.
As bibliotecas estão vazias em sua maior parte. Se os jornais fossem lidos, o resultado de muitas pesquisas seria diferente e, por que não, até mesmo o processo eleitoral.
Pródigo em avaliações, o governo gosta de disciplinar, regulamentar, exigir observância de regras, não abdica da burocracia. Mas não alerta os pais, já eles mesmos fruto desse descalabro, de que a verdadeira educação deve começar em casa. Tudo vai desaguar na mais absoluta falta de ética. Houvesse brio e cada qual iria em busca do conhecimento, nunca antes neste País tão acessível, mas em poucas fases históricas tão desprezado e ignorado.
Haverá esperança para um País que poderia se espelhar na Alemanha, perdedora de duas guerras, nos tigres asiáticos, na Escandinávia, mas que prefere se espelhar em outros exemplos, não tão edificantes e se alinhar com o atraso e o obscurantismo.
José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.