Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.


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Ovos que salvam

O ovo já foi vilão. Conheço gente que só consumia clara e jogava as gemas fora. Justamente a gema, que produz doces tão deliciosos como os portugueses. Lá, um Estado confessional repleto de ordens religiosas usava as claras para engomar os hábitos das freiras e, com isso, desenvolveu a indústria dos doces de ovos. Todos feitos com gema. “Ovos moles”, “fios de ovos”, “fatia do céu”, “pastéis de Belém”. Doces chamados “conventuais” exatamente por causa disso.

Pois hoje o ovo foi reabilitado. Faz bem. É alimento que contém minerais como cálcio, ferro, zinco, fósforo, potássio, magnésio e sódio. E também quantidade expressiva de selênio. Este é um oligoelemento fundamental para a síntese das selenoproteínas e desempenha importantes funções biológicas como antioxidante, formação nos hormônios tireoidianos, síntese de DNA, fertilidade e reprodução.

Um ovo contém 15 mcg de selênio e representa 33% das necessidades diárias de um adulto. E é fonte de proteína, possui em sua composição vitaminas lipossolúveis – A, D, E, K, vitaminas do complexo B, carotenoides, luteína e zeaxantina, além de minerais, que fazem dele um alimento completo.

Sei disso porque fui à Festa do Ovo, em Bastos, a Capital do Ovo, a convite da prefeita Vergínia Fernandes. Lá também estava o ministro Blairo Maggi, que trouxe boa notícia: em Iacri vai se instalar uma indústria que fará “ovo em pó”. Com isso, faremos com que o ovo, altamente perecível, possa vir a ser exportado para todo o mundo. Para nosso bem. Pois o ovo está mantendo índices muito favoráveis na balança comercial nesta fase trágica de carência de recursos financeiros.

Bastos possui 130 granjas de postura comercial, 70 avicultores, 32 coturnicultores, mais de 28,5 milhões de aves, 6,1 milhões de pintainhos, 1,5 milhões de codornas. Produz 17,8 milhões de ovos por dia, 49,5 mil caixas de 30 dúzias, ou seja: 742,5 mil ovos por hora, 12,3 mil por minuto e 206 ovos por segundo.

Durante a festa houve solicitação expressa de inclusão de ovo na alimentação escolar. Já existe esse uso em algumas regiões. Mas é preciso intensificá-lo. Ovos salvam a saúde, mas também salvam a economia. O que não é pouco em nossos turbulentos dias.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 31/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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O governo é nosso

A explicação teórica para a existência do Estado é bem conhecida. Os homens se agregam naturalmente ou isso é uma imposição do poder? Haveria condições de uma sociedade subsistir sem autoridade, poder, ordem e disciplina? A teoria aristotélica é a de que é natural à espécie humana se juntar em grupos. Vocação gregária, a do ser humano. Ninguém consegue viver sozinho. Tomás de Aquino continuou a mostrar essa tendência, lembrando que só há três hipóteses de vida isolada: a “excellentia naturae”, dos seres tão bem providos de qualidades que prescindem de convivência, a “corruptio naturae”, daqueles que, portadores de patologia, não conseguem conviver e o “mala fortuna”, hipóteses dos que por acaso ou desdita acabem na solidão. Exemplo literário de Robinson Crusoe.

Já a concepção contratualista é outra. Os homens firmam contrato ao nascer e com isso surge a sociedade humana, fruto de um acordo de vontades. O mais célebre é Jean-Jacques Rousseau, que escreveu exatamente “O Contrato Social”, em 1762. Todos os homens nascem livres e iguais.

Quem os oprime é a sociedade. Por isso a alternativa: firmar uma avença, evidentemente simbólica, para que tentem viver tão livres como antes do surgimento da sociedade. Outros contratualistas são John Locke e Thomas Hobbes, o autor do “Leviatã”. Para Hobbes, ao contrário de Rousseau, para quem o ser humano é o bom selvagem, o homem é o lobo do homem. A humanidade é má por natureza.

Seja como for, o Estado, como instrumento de coordenação das atividades dos humanos, é um estágio transitório. Foi concebido para perdurar enquanto a humanidade não atinge o grau ótimo de excelência que a prescindiria e ser conduzida por autoridade. Parece distante o dia em que todos respeitarão a todos, desnecessária a lei, a prisão, a multa, o uso da força e o monopólio da violência de parte de um governo. Mesmo antes desse patamar ideal, que muitos consideram utópico, é preciso ter presente que o governo está a nosso serviço e sua missão é atender às expectativas da cidadania. Isto é válido para todos os dias, mas principalmente para as épocas eleitorais.

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 28/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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A ordem é conectividade

A palavra de ordem para a economia contemporânea é a conectividade. A principal parceira dessa fase é a internet. Ela estabelece a comunicação de componentes com as máquinas, das máquinas com os trabalhadores e dos trabalhadores com outros trabalhadores, tudo em permanente interconexão. Estamos na quarta revolução industrial, cujos fundamentos são eficiência, produtividade, redução de custos, customização e demais exigências naturais a um ambiente competitivo.

Nas revoluções industriais anteriores, havia a incorporação de um novo conceito, como a energia a vapor, a energia elétrica e a automação. Nesta quarta, há um mix de tecnologias intercomunicáveis, como a internet das coisas, a robótica, a inteligência artificial e a impressão 3D. Tudo o que já existe pode ser transversalmente explorado pela tecnologia digital.

O mundo novo já está disponível. Pense-se em peças com sensores, que “avisarão” a proximidade do desgaste, para que a substituição se faça previamente. É uma espécie de vigilância da produção por ela mesma. E isso não é algo irrealizável, utópico, delirante. Boa parte das indústrias brasileiras tem condição de experimentar a realidade, apenas ainda distante da rotina porque falta conexão.

Algo disponível é a chamada “manufatura aditiva”, ou seja, a impressão 3D, que permite a produção de peças, protótipos e objetos diversos, a comprovar que a indústria 4.0 já chegou. Qualquer pessoa pode imprimir um livro em casa. Só não se pode afirmar que isso é mais barato do que contratar uma editora.

A Escola Politécnica da USP abrirá em 2017 a sua “Fábrica do Futuro”, que funcionará com o que é mais moderno em ciência e tecnologia e em parceria com as indústrias de ponta. Para isso, precisamos de estudantes que levem física, matemática e química a sério. Que sejam empreendedores e criativos. É o que vai permitir o nosso avanço em competitividade na escala planetária, sem o que o Brasil continuará a reboque das grandes potências mundiais.

Os primeiros passos já foram dados pelas próprias empresas. A indústria de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e óticos já se serve em 61% de tecnologias 4.0. Logo em seguida, o setor de máquinas, aparelhos e materiais elétricos com 60%. Dependemos da educação, sempre e exclusivamente dela, para avançar o quão necessário se mostra nessa área sensível da economia brasileira.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 28/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Educação nas férias

A missão de educar na verdade não se interrompe. O período de férias é o intervalo para a recuperação das energias, preparo do período seguinte, reparo de algum desgaste natural e pausa para repensar o projeto. Mas nem por isso as atividades educacionais num sentido amplo precisam de interrupção.

A educação continua em casa. Mães ou suas substitutas são as primeiras mestras. As responsáveis pela “educação de berço”, base essencial ao aprendizado convencional que a escola propicia. E como nem todas as crianças poderão viajar nas férias, principalmente em anos terríveis como 2016, é importante que haja planos hábeis a preencher o tempo até agosto.

Escolas particulares cuidam de acolher seu alunado em julho, como apoio às famílias que não podem ou não querem viajar. E os projetos cuidam de oferecer um cardápio diferente do que o desenvolvimento regular do projeto pedagógico. O objetivo é fazer com que as crianças brinquem. Sintam-se em férias.

Tudo é válido nesse período. Descobrir brincadeiras antigas, tão esquecidas para a geração chipada e que só sabe brincar com videogame. Passeios para conhecer espaços às vezes tão próximos e desconhecidos pelos moradores. Estimular a leitura, deixando que a criança escolha aquilo que mais a atrai. Trabalhar na horta ou no jardim, cozinhar, preparar brinquedos com objetos nem sempre considerados quando se trata de propiciar iniciação artística.

A criança é criativa e ela mesma pode “inventar” o que fazer nesse período. Montagem de pequenas peças teatrais que elas mesmas escrevam, ensaiem e interpretem, compor músicas, utilizar bicicletas, patins ou skates, levar um pouco do brinquedo preferido para a escola. Há inúmeras opções que podem preencher os curtos trinta dias em que as aulas não são ministradas, período tradicionalmente reservado às “férias”.

O importante é que a criança se sinta realmente “em férias”, mesmo que o destino não sejam os parques temáticos ainda residentes no sonho da maior parte da infância brasileira, tamanha a propaganda que se faz em torno a essa fórmula de divertimento forçado, como se a felicidade dependesse do panorama e não do bem-estar da consciência.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 24/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Educar no YouTube

Assim que assumi a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, afirmei que procuraria os “youtubers” para que ajudassem a tornar o aprendizado mais sedutor, impedindo que houvesse crescimento da evasão. Estava preocupado com a geração “nem-nem”, ou seja, nem estuda nem trabalha. A educação continua a ser a alternativa à desqualificação para a cidadania e para a subsistência.

Continuo a acreditar que a circuitaria neuronal das novas gerações é digital, enquanto a minha é analógica. Precisamos recuperar o espaço perdido quanto a tornar as aulas atraentes, interessantes e hábeis a despertar a curiosidade intelectual da juventude. Alguns passos foram dados, mas ainda é longa a caminhada.

Hoje são 184 canais brasileiros de educação reconhecidos pelo YouTube. Em 2013, quando nasceu o portal dedicado à área, o YouTube Edu, eram apenas 20. E se isso é bom, também oferece desafios. Não é fácil prender a atenção da mocidade, tantas as opções de exploração de portas de acesso a qualquer modalidade de informação disponível.

Examine-se o exemplo da biologia. O primeiro canal a aparecer no site de vídeos é o “Biologia Total”, do professor Paulo Jubilut. Tem mais de 700 mil inscritos. “Bioexplica”, do professor Kennedy Ramos, tem 17 mil seguidores. Ainda faltam canais de educação infantil, mas há bons modelos como o “Se Liga Nessa História”. O canal se serve de efeitos sonoros, gráficos e lúdicos. Há todo um trabalho de arte cênica, roteiro e edição, diz o professor Walter Solla. Quando aborda a Grécia antiga, aparece o mestre vestido de Zeus e o produtor fantasiado de espartano.

Uma pista nova e interessante é o aprendizado de idiomas. O Brasil precisa oferecer ao alunado a oportunidade de não ser monoglota e de disputar no globo, cada vez mais acessível, as vagas nos nichos de excelência que estão abertos a talentos de todo o planeta. O professor antenado com a nova realidade tem condições de despertar em seus alunos a vontade de ser “youtuber”: ou seja, criar uma comunicação com a linguagem de seus colegas, que transmita algo de valioso de maneira mais atraente do que o convencional. Esse o futuro da educação planetária. Não dá mais para fugir, por maiores sejam as resistências do anacronismo.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 21/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Como ajudar?

         A sociedade civil, conjunto de cidadãos responsáveis pelo convívio harmônico da população de uma República, tem direitos, mas tem deveres. Em relação à educação, direito de todos, há um dever indeclinável da família e da sociedade, atuando conjuntamente com o governo, em fazê-la adequada à obtenção de seus objetivos. Todos eles estabelecidos pelo constituinte, o elaborador do pacto fundante, único titular da soberania, poder que se sobrepõe a todos os demais. E os objetivos do processo educacional são desenvolver as potencialidades de cada ser educando, até que todos atinjam a plenitude possível. Depois, capacitar ao apropriado exercício da soberania. Por fim, qualificar para o trabalho.

         Evidente que essa é missão viável, embora não seja singela. Hoje se discute a aptidão da escola em atender, de forma integral, à consecução de seus propósitos. Muito se discute sobre a eficiência dos métodos tradicionais de ensino, sobretudo quando se questiona “quem ensina quem”, já que o conhecimento está disponibilizado de forma ampla e acessível a quantos frequentam as redes sociais.

         De qualquer forma, a escola continua a ser o centro de convergência da missão educacional. É a instância apropriada à transmissão do saber, mediante o clássico método de ensino/aprendizado. E muito se pode fazer por uma escola, a fim de que ela atenda de maneira cada vez mais completa aos seus nobres escopos.

         Sem esgotar as hipóteses de efetiva e concreta participação nos destinos da Nação, sugere-se aos interessados em ajudar e ainda desprovidos de ideias de fazê-lo, que pensem, por exemplo, em “adotar afetivamente” uma escola. Em reformar ou pintar uma escola. Em dotá-la de uma sala de leitura, provê-la de rede wi-fi, oferecer a ela uma fanfarra ou banda, contribuir para a formação de uma horta escolar, de um jardim ou de um bosque, se houver espaço. Formar dentro dela um time, um coral, um grupo teatral, um clube de cinema. Apoiar as iniciativas do Grêmio Estudantil ou aderir ao Programa “Escola da Família”. Ainda faltam ideias?

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 21/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Atualidade de Franco Montoro

Momentos como os que o Brasil enfrenta nesta fase dramática servem também para celebrar melhores páginas. Uma das quais a passagem patriótica de ANDRÉ FRANCO MONTORO pela política nacional.

Nascido em 16.7.1916, se vivo fosse estaria a completar seu centenário. Mas continua presente qual modelo de homem público virtuoso, que não se corrompeu e guardou intacto o idealismo e o fervor cívico.

Bacharel das Arcadas em 1938, conciliou o Curso de Ciências Jurídicas e Sociais com Filosofia e Pedagogia. Afeiçoado às causas humanitárias, foi secretário-geral do Serviço Social da Secretaria da Justiça, docente universitário e procurador do Estado. Filiado ao PDC – Partido Democrata Cristão, foi vereador à Câmara de São Paulo, deputado estadual e deputado federal.

Estava em companhia de João Goulart, então vice-presidente, quando da visita à China, ocasião em que Jânio Quadros enunciou, em 25.8.1961. Foi ministro do Trabalho e Previdência Social de Jango, criou o salário-família, caiu com a queda de João Goulart, mas reelegeu-se deputado federal pelo MDB em 1966. Foi um dos cinco únicos senadores oposicionistas eleitos em 1970 e, em 1982, era o governador de São Paulo, responsável por uma das administrações mais democráticas que Piratininga já experimentou.

Sempre tive enorme admiração por Franco Montoro, casado com a jundiaiense Luci Pestana Silva Franco e pai de sete filhos. Ricardo, um deles, meu amigo, foi o responsável pela concessão da honrosa Cidadania Paulistana a este conterrâneo de sua mãe.

Montoro sempre me incentivou a participar de um contínuo processo de aperfeiçoamento da vida brasileira e me prestigiou em todas as oportunidades. Atendeu a convites para proferir palestras aos alunos de Direito da Faculdade Padre Anchieta, foi inaugurar a Feira da Amizade em 1982, pouco antes de se tornar governador. Depois de deixar o governo, continuou à frente do Instituto Jacques Maritain, instância adequada para o debate franco e consistente sobre os rumos do convívio fraterno e cristão, algo de que ainda carecemos. Talvez mais do que em tempos de antanho.

Sua obra é imperecível. Sua frase “ninguém mora na União nem no Estado. As pessoas moram no município” é uma das que mais repito, com imensa saudade do mestre e amigo.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 17/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Mapa de sensações

Educar os corações é mais importante do que inflar de informações a cabeça das crianças. É o que pensa o Dalai Lama, Tenzin Gyatso, hoje com 81 anos. A felicidade do planeta está no coração de cada ser humano. Enquanto cada qual e todos não encontrarem a paz, haverá conflitos, ressentimentos, desentendimentos, violência e amargura.

Foi há dois anos que o Dalai-Lama convocou o psicólogo Paul Ekman, de 82 anos, para tornar científica essa intuição budista. O cientista aceitou o desafio e elaborou o Atlas das Emoções. Ele permite que as pessoas identifiquem os estados mentais que provocam reações emotivas. São cinco grupos de emoções: alegria, raiva, medo, tristeza e nojo.

Paul Ekman sabe do que fala. Desde a década de 1960 ele faz pesquisa para confirmar a tese darwinista de que as emoções são comuns a todos os humanos, independentemente de qualquer outra conotação cultural, civilizatória ou étnica.
Isso significa que todos nos alegramos da mesma maneira, temos idêntica expressão facial. Franzimos a cara diante da sensação de nojo. O medo causa as mesmas reações.

Sabendo bem disso, o resto é treino de cada um de nós. Alegria pode ser deflagrada por orgulho, alívio, compaixão, prazer e empolgação. Os “gatilhos” da raiva são fúria, vontade de vingança, frustração e irritação. O medo causa nervosismo, pânico, ansiedade e horror. Tristeza traz desespero, infelicidade, desapontamento, sensação de perda e luto. Nojo é sinônimo de repulsa, aversão e desgosto.

Toda emoção gera consequências. Tanto positivas, como negativas. Administrá-las e domá-las é missão factível, a depender da firmeza de vontade com que se encare o desafio. Quando nos conhecemos bem, sabemos o que nos causa alegria ou tristeza, raiva ou medo, nojo ou desalento.

O importante é aprender a encarar as situações e extrair delas, já que são inevitáveis, as boas consequências. Isso é o que a rede pública estadual de educação já faz com o exitoso “Projeto de Vida”, que propicia ao educando conhecer-se melhor, para conhecer melhor os outros e para viver uma vida melhor.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 14/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.

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As senhas estão morrendo

Como a criminalidade é organizada e não perde tempo, os maiores bancos do mundo já estão abandonando o sistema de senhas para se valerem da biometria. As senhas tradicionais são complicadas e vulneráveis. Por isso a utilização de impressões digitais, reconhecimento facial, voz e outros recursos biométricos. Já são milhões de correntistas dos grandes bancos que acessam suas contas por meio de celulares. A tendência é a ampliação do uso de instrumentos propiciados pelas tecnologias da informação e da comunicação, para facilitar a circulação de valores e de serviços.

Outras empresas também iniciaram a migração de seus processos tradicionais para a área da biometria. O reconhecimento ocular permite que acionistas façam transferência de milhões de dólares. Quase um milhão de clientes de cartões de crédito consegue fazer operações mediante a identificação de sua voz. O reconhecimento facial é empregado para tratar de serviços bancários e de seguros para militares dos Estados Unidos.

Centenas de milhões de endereços de e-mail, número de telefones, senhas, já caíram em poder da bandidagem. A violação de dados e a ação de hackers trouxe imensa insegurança a todos os mercados. A biometria está disponível há muito. Mas o custo da tecnologia para viabilizar o acesso a milhões de celulares impedia a sua disseminação. Hoje, quase todos os modelos de IPhone de última geração possuem tela de toque hábeis a identificar as impressões digitais. Caminha-se rumo à identidade biométrica, muito mais confiável, porque baseada em marcas de identificação física em regra definitivas.

A dúvida dos usuários é a respeito do armazenamento dos dados. Os bancos não mantêm arquivos das impressões digitais, das vozes e das faces dos clientes. Preferem armazenar nos “templates”, sequências numéricas longas e complexas. Ninguém pode garantir que os infratores também não descubram o segredo. Mas o desenvolvimento de salvaguardas adicionais está a caminho. Enfim, segurança absoluta não existe. Mas a luta é chegar à segurança possível. Morte às senhas!

Fonte: Diário de S. Paulo | Data: 14/07/2016

JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.


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Juízo e solidariedade

A crise que o Brasil atravessa era previsível. Dentro e fora do País ela foi reiteradamente anunciada. Quem se detiver a ler dois livros importantes, verá que todos os avisos foram endereçados, mas não foram ouvidos.

Francis Fukuyama, o historiador que anunciou “o fim da História”, coordenou a obra “Ficando Para Trás – Explicando a Crescente Distância entre a América Latina e os Estados Unidos”. Foi publicada em 2008, no auge da crise que afetou o Império hegemônico do norte. Talvez a explicação esteja na origem. Os “quakers”, quando deixaram a Inglaterra e foram para a América, levaram os ossos dos antepassados e a vontade de criar uma Nação.

O Brasil sempre foi um quintal de onde tudo se extraiu, nada se trouxe. Foi um acaso histórico o corretor de rumos: a Corte Portuguesa teve de fugir de Napoleão e se instalou na Colônia em 1808. Mas àquela altura, havia universidades em toda a América espanhola e o Brasil não podia ter ensino superior. Nem gráficas nem imprensa.

Mentalidade colonial se manteve no decorrer dos séculos. Tudo tem de vir da metrópole. Não há iniciativa, não há empreendedorismo, não há vontade de mudar. O hábito é exigir que a metrópole atenda às reivindicações e reclamos.

O outro livro é “Por que as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu, do MIT – Massachusetts Institute of Technology. Para que um país se desenvolva, ele precisa de instituições de elevadíssima qualidade, assim como a educação.

Precisa de cidadania, que não é apenas ter direitos, mas assumir deveres e obrigações. Precisa de empreendedorismo e a burocracia estiolante inibe quem quer investir no Brasil.

Tudo é difícil, tudo é complicado, a lei parece ter sido elaborada para criar dificuldades e a presunção é de má-fé, embora o ordenamento diga exatamente o contrário. Mais do mesmo não vai resolver. O momento é de reflexão, de sensatez, de muito juízo e de solidariedade em relação aos milhões de desempregados, sem perspectiva e sem esperança.

Muita angústia ainda no horizonte, antes de iniciarmos o caminho de volta, rumo ao Brasil com que sonhamos.

Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 10/07/2016
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo. E-mail: imprensanalini@gmail.com.