Matamos gente também! Gente ligada à ecologia. Defensores do ambiente. Gente que quer impedir que matem mais árvores. Os ambientalistas não têm vez numa terra que prefere o lucro imediato e fácil e que não respeita a natureza.
Em 2017, houve 207 ambientalistas mortos. O índice é mundial. Mas o Brasil é responsável por 57 dessas mortes. 60% delas ocorreram na América Latina. São dados obtidos em vinte e dois países, mas estão abaixo da realidade, porque a ONG britânica Global Witness não conseguiu informações detalhadas. Foram computados apenas os casos mais flagrantes e escancarados. Aquilo que a mídia noticiou.
Para o Brasil, foi o pior cenário. Compatível com o descaso que a tutela ambiental vem merecendo, desde a edição da Constituição Cidadã de 1988, cujo artigo 225 foi considerado uma das mais belas normas ecológicas do planeta.
Três massacres se encarregaram de 25 mortes. Um em cada quatro homicídios estiveram vinculados à indústria agroalimentar. Mas também se matou em disputas minerais, desmatamento e guardas florestais que tentaram defender animais sob ameaça de extinção de caçadores ilegais.
Também se assassinou quem defende suas terras contra uma agricultura destrutiva, que desmata e usa impunemente agrotóxicos já proibidos em sua origem. A ONG critica os governos negligentes e as empresas irresponsáveis, por anteporem os lucros à vida humana.
Além dos homicídios, há um arsenal bem forte destinado a calar as pessoas, como ameaças de morte, detenções, perseguições, ciberataques, violência sexual e muitos desaparecimentos.
No nosso Brasil, que já eliminou a imensa maioria dos indígenas, os verdadeiros “donos da terra”, vinte e dois índios gamela foram feridos por fazendeiros armados com machetes e fuzis. Um dos indígenas recebeu golpes de facão nas mãos, ficou com fratura exposta e o risco de perder membros.
Ninguém foi responsabilizado pelo ataque, delito que reflete a cultura de impunidade e inação por parte do governo brasileiro para defender os ambientalistas. Aqueles que estão zelando pelo futuro de nossos descendentes e que não têm merecido o apreço de quem tem a obrigação de salvar o que resta de nosso meio natural.
José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente universitário, palestrante e autor de “Ética Ambiental”, 4ª ed, RT-Thomson Reuters.