Os agrotóxicos estão em quase todos os produtos que consumimos. Ainda não há consciência ambiental capaz de optar pelo orgânico, ou para exigir que venenos proibidos em outros Países aqui entrem indiscriminadamente, sob argumento de que a lavoura está salvando o Brasil.
O Rio Grande do Sul, um dos Estados mais desenvolvidos do País, está sofrendo com a proliferação dos herbicidas utilizados na plantação de soja. Seus vitivinicultores alegam perdas de até 70% em virtude da contaminação de suas parreiras pelo 2,4-D, um agrotóxico utilizado para eliminar ervas daninhas antes do plantio da soja.
Os plantadores de soja culpam o vento. É como a piada do sofá do adultério. Não questionam o uso de uma substância tóxica, venenosa, que é cancerígena. Será que os produtores de soja indagam se o herbicida também não contamina a própria soja? Sabe-se que em grande parte ela é destinada a alimentar animais. Só que, depois disso, os animais servirão de nutrição para os humanos. É uma cadeia venenosa infernal.
Há também a falta de cuidado na aplicação do veneno. Despreparo dos trabalhadores. Não são treinados para isso.
O resultado é que a viticultura se tornará inviável no Rio Grande do Sul. O Instituto Brasileiro do Vinho chegou a pedir a proibição total do agrotóxico no Estado. Já as fabricantes, todas multinacionais, aquelas que mudam de nome porque são constante alvo de coletividades mais conscientes e mais esclarecidas do que a brasileira, confirmam que a contaminação de áreas vizinhas se deve à má aplicação do produto.
Não é que o produto seja venenoso. Não é que ele seja tóxico. É que o agricultor ou seu subalterno não sabem aplica-lo.
Inexiste qualquer expectativa de solução para esse, que é apenas um dos inúmeros problemas que acometem o ambiente brasileiro, em todos os espaços e em todos os níveis. O Brasil assiste a um retrocesso acelerado na proteção de seus recursos naturais.
Duas causas se uniram e são indissolúveis: a ignorância ecológica e a cupidez ou ambição. Juntas, são indestrutíveis. Destrutível é o ser humano.
José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, ex-integrante da Câmara Reservada ao Meio Ambiente do TJSP, autor de “Ética Ambiental”, 4ª ed., RT-Thomson.