Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

O fim da privacidade

2 Comentários

Nesta era de abundância de direitos, não é fácil a convivência entre a privacidade e a transparência. Ambos são valores acolhidos pela Constituição de 1988. A sensação que tenho é de que na queda de braço entre ambos, a privacidade perdeu. Essa derrocada foi objeto de uma visão profética de Marshall McLuhan, quando proclamou: “Todas as paredes vão cair”. Ele morreu em 1980, antes da web, mas já imaginava o que o mundo das redes traria para as comunicações entre os mortais. Embora seu assistente, Derrick de Kerckhove discordasse da opinião, sob o argumento de que as pessoas ainda seriam capazes de guardar silêncio sobre as coisas, McLuhan insistia em decretar o fim da privacidade. É como um tsunami: embora você saiba nadar, não vai adiantar.

Hoje, o criador do Facebook, Mark Zuckergerg, assumiu que a privacidade acabou. Seu enterro foi providenciado pelo Big data. O que é “Big data”? É a combinação de bancos de dados diversos, tanto os estruturados – cadastros de clientes – como não estruturados – o que se encontra nas redes sociais, para extrair de tudo isso novos significados.

Ninguém consegue fugir a isso. O passado se torna presente, pois qualquer informação – principalmente as que suscitam o faro da maledicência – estará sempre disponível. Depois de um fato, um clipping, uma foto, uma filmagem ingressar nas redes, nunca mais deixará de existir. Será sempre objeto de localização. Lembra algo mais antigo.

A penitência daquela mulher maldosa que falava mal de todo o mundo. Arrependida, foi se confessar e São Felipe Nery mandou que ela apanhasse uma galinha morta e espalhasse suas penas pelos recantos mais distantes da cidade. E depois voltasse até ele.

Quando retornou, ele pediu a ela que recolhesse todas as plumas. E ela disse que era impossível. A lição é clara e atual: depois de vulnerada a honra de alguém, é impossível extrair do mundo fenomênico essa mácula. Para conviver com essa exagerada transparência, é preciso assumir uma ética da humildade.

Saber que se está sendo observado e sujeitar-se ao escrutínio da opinião dos semelhantes. Ninguém mais consegue fugir ao escancaramento da publicidade, que na República recebeu o apelido de transparência.

JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 2014/2015. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br

 

Autor: Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. Atual Reitor da UniRegistral. Palestrante e Conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

2 pensamentos sobre “O fim da privacidade

  1. Penso que o fim da privacidade sempre foi uma questão evolutiva, o que não quer dizer o fim da Moralidade.
    “Publicidade” Transparência em atos e assuntos governamentais; estamos parados pois há uma sonegação de informações infinita.
    O governo quando diz “mal feito” esta passando a mão na cabeça de corruptos e de corruptores.
    Agora, a transparência e a publicidade pode assassinar muitas reputações e biografias.
    Um dia talvez a sociedade desperte e passe a comentar e observar os bons eventos, aquelas notícias que agradam, nos fazem sorrir, não dando tanta importância às tragédias e a violência que se tornaram corriqueiras e banais e que navegam e influenciam pessoas numa velocidade impressionante. É o mundo ficando nu como já disseram.
    A vulnerabilidade alcança a todos.

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  2. Doutor Nalini, muito oportuna reflexão. Está claro que as pessoas não têm noção das consequências de se externar comportamentos e ideias a esmo, sem qualquer filtro da razão. Por vezes, se surpreendem com repercussões que, por exemplo, numa mesa de bar, jamais alcançariam. Talvez por isto estejamos vivendo tempos de acelerada “evasão de privacidade”. Abraços

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