Blog do Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Atual Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. É o Reitor da UniRegistral. Palestrante e conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

Um apelo à humildade

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O dia 21 de abril foi o dia da Instituição da Eucaristia. O mais profundo mistério do Cristianismo. Como explicar a presença real do Deus feito homem numa partícula de pão? Se a Cristandade se conscientizasse disso, haveria presença permanente dos fiéis junto ao sacrário. Nenhuma outra religião tem esse milagre à disposição. E a falta de fé transparece na solidão das Capelas do Santíssimo, hoje em regra relegadas à rarefeita presença de alguns devotos. 

A data é mais lembrada pelo povo ainda crente como o dia do Lavapés. Isso porque, antes de cear com seus discípulos, Jesus Cristo – num gesto de humildade – lavou os pés dos convivas. Pés de homens comuns, rústicos e, presumivelmente, não submetidos a podólogos. Até hoje, as comemorações da Igreja Católica na véspera da paixão reconstituem a cena. O Papa também se submete ao ritual. 

O simbolismo é evidente e serve para uma reflexão muito oportuna em tempos de incessante procura pela fama, glória e reconhecimento. Será que a humildade é uma virtude ainda levada a sério? Sintoma bastante nítido de seu espaço na hierarquia axiológica da sociedade atual é a chamada “tática das homenagens”. Qualquer pessoa provida de um mínimo de autoridade ou poder, recebe reverências. Assim que alguém toma posse num cargo, seja de relevância ou não, antes mesmo de assumir ou se mostrar digno de reconhecimento, já é alvo de láureas, afagos e encômios.

O episódio do “Lavapés” seria eloquente como prova de que todos são iguais. Lamentavelmente, só repercute de imediato e logo cai no olvido, para voltar à momentânea atenção na Semana Santa do ano subsequente. Como seria oportuno que os humanos, tão frágeis, tão vulneráveis, tão efêmeros, tão sujeitos às vicissitudes terrenas, cultivassem mais o atributo da humildade. 

O que é o ser humano, senão um “caniço pensante”? Ninguém é melhor do que outrem, pese embora a irrepetibilidade da criatura racional. Em dignidade, todos os seres da espécie estão em idêntico patamar. Por que se basear em distinções contingentes para erguer muros, solidificar preconceitos, quando a humanidade está a necessitar de pontes, mãos estendidas, abraços e os melhores sentimentos?

José Renato Nalini é Desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium. E-mail: jrenatonalini@uol.com.br.

Autor: Renato Nalini

Ex-Secretário de Estado da Educação e Ex-Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Presidente e Imortal da Academia Paulista de Letras. Membro da Academia Brasileira de Educação. Atual Reitor da UniRegistral. Palestrante e Conferencista. Professor Universitário. Autor de dezenas de Livros: “Ética da Magistratura”, “A Rebelião da Toga”, “Ética Ambiental”, entre outros títulos.

4 pensamentos sobre “Um apelo à humildade

  1. “O episódio do “Lavapés” seria eloquente como prova de que todos são iguais. (…) Como seria oportuno que os humanos, tão frágeis, tão vulneráveis, tão efêmeros, tão sujeitos às vicissitudes terrenas, cultivassem mais o atributo da humildade.”
    Mesmo sabendo dos riscos que os elogios ocasionam, não se pode deixar de considerar a exatidão da mensagem acima. É uma lúcida reflexão sobre o ensino da Eucaristia, útil e necessária a qualquer indivíduo, de qualquer crença.
    Bruno Buran

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  2. Cristo em sua Realeza se torna humilde na Eucaristia, na majedoura, ao montar um jumentinho, ao lavar os pés dos apóstolos, etc …..e assim prova ao mundo que quem quer ser o primeiro, que seja o servo de todos, uma vez que o Poder é melhor exercido por quem não o aspira, pois se alguém aspira ao Poder, não deseja o bem comum.

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  3. Humildade. Será que não é a falta desse importantíssimo ingrediente no pão católico que explica a descrença das pessoas atualmente? Jesus cristo ceava entre os seus, sentado no chão como eles. Dividia e fazia dividir entre todos o que apenas um possuía. Vestiasse igual senão inferior as pessoas a sua volta. Falava de forma que todos compreendiam. Era mestre por eleição e não por imposição, amigo e irmão porque sabia que estava entre iguais, pois todos eram filhos do mesmo PAI.
    Hoje, o que vejo é um homem que se diz representante de Deus na terra (padres), de vestes singulares e de pé num plano superior aos demais não só na altura como no aparato; de fala difícil para os desprovidos de cultura terrena e eleito por imposição para pregar o evangélio dentro de uma casa suntuosa, tão diferente dos lares de muitos que ali vão. Que cobra para dizer a uma criança que ela é filha de Deus no ritual do batismo ou para abençoar um matrimônio em nome DELE.
    Desculpe Exa., mas os poucos que ali vão são aqueles que ainda acreditam que se não forem vão para o inferno.
    Dentro de toda esta situação, concorda que o Ovo de Páscoa e o bacalhau, degustados em meio a alegria de estar entre pessoas que se amam de verdade e se importam uns com os outros, é bem mais agradável e convidativo do que ter que ir a igreja?
    Ou o catolicismo ressuscita Jesus da forma como ELE deve ser ressuscitado, ou irá fazer pregações para as moscas nas próximas gerações.

    PS.: isso é a crítica de uma católica, apostólica romana, nascida, batizada e criada dentro da igreja e que acredita que um dia tudo pode ser diferente como um dia foi!

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  4. Não seria o movimento contrario a ser tomado, mestre? Não deveria o Papa lavar os nossos pés de vez em quando? Isso seria demonstrar humildade e de que a razão assiste às maiorias, ainda que ignorantes? Queda-te a seguir o que? Prefiro elevar. Nenhum humilde jamais nos levantou. 2000 anos de humildade e caminhamos para a auto-destruição. Ecologia? Comecemos a fazer o trabalho de casa, porque ir lá fora, ver os exemplos e ser incrédulo (em si e para si, Sartre), ainda estipular metas mentirosas, é ser o pior dos ignorantes (basta calcular-se a despoluição do tietê – https://www.sosma.org.br/101133/apesar-de-melhorias-despoluicao-rio-tiete-ainda-e-sonho-distante/). Assumimos o compromisso para vender as terras? [veja que maior parte do território norte-americano foi comprado – https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquisi%C3%A7%C3%B5es_territoriais_dos_Estados_Unidos%5D. Visão.

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